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sexta-feira, 31 de março de 2017

DORMINDO NO PONTO



   Uma pesquisa aponta que 38% dos trabalhadores brasileiros sofrem com algum distúrbio de sono, como insônia ou dificuldade para repousar profundamente. 
   Os dados são da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil, que avaliou por meio de questionários mil profissionais de diferentes setores da economia em São Paulo e Porto Alegre. 
   A situação pode ser ainda mais grave entre pessoas que trabalham no período noturno, já que é difícil dormir bem durante o dia, por várias horas seguidas, em função do barulho externo. 
   A falta de sono, como todo mundo sabe, causa problemas como irritabilidade, dores de cabeça, baixa concentração e, em longo prazo, aumenta as chances de a pessoa desenvolver diabetes, síndromes metabólicas e doenças cardiovasculares. 
   O metroviário Renato Souza, 36, lança mão de máscaras, daquelas de avião, e de cortinas blecaute para conseguir repousar depois de trabalhar durante a madrugada, o que acontece pelo menos duas vezes por semana. 
   “Para piorar, tem uma igreja ao lado de casa, então também comprei um ar-condicionado para não precisar abrir a janela e ser acordado com o som deles depois”, diz. 
   Essas estratégias são eficientes para garantir descanso ao corpo, segundo a neurologista Rosa Hasan, líder do laboratório de sono da USP (universidade de São ), mas nada disso adianta se o profissional não conseguir em primeiro lugar, se desconectar totalmente. 
   “O sono deixou de ser prioridade nessa sociedade conectada, e a pessoa não dorme para ficar em redes sociais ou reponder a e-mails”, afirma Hasan. 
   A cuidadora de idosos Rosana Lima, 45, não abre mão de trabalhar no período da madrugada. Quando deixa o local, às sete da manhã, segue para a faculdade, onde faz um curso de radiologia. 
   “Sinto que rendo mais à noite, embora nem sempre consiga dormir e acabo cochilando até no ônibus, depois de sair da aula”, diz. 
   O horário dela impõe sacrifícios. Lima dorme cinco horas por noite e diz sentir dores e tontura quando não consegue descansar o suficiente. 
   Quem prefere trabalhar à noite, como Lima, deve avisar a empresa, já que a maioria delas não faz triagem para turnos considerando a vontade ou as características dos empregados. 
   “A escolha pode ajudar o profissional a ter uma alta de produtividade, vantajosa para a carreira”, diz a doutora em administração e professora da FGV Letícia Menegon. 
   Mas o período da noite pode ser desafiador para a ascensão profissional, já que a maioria dos chefes não está na empresa nesses horários. 
“O profissional perde em visibilidade em networking, já que fica escondido nesse turno”, explica Emerson Gouveia, vice-presidente de negócios da recrutadora Stato. 

   EXPEDIENTE

   Quem trabalha em casa e não tem horário fixo também pode sofrer com a falta de descanso, sobretudo aqueles que trocam o dia pela noite. 
   A tradutora Ágata Souza ,28, exerce sua função em casa. No começo da carreira, produzia na madrugada e não conseguia dormir oito horas.
   “Alternava duas ou três horas do trabalho com o mesmo tempo de sono, até perceber que estava exausta. Cometia erros e precisa anotar tudo, para não esquecer”, conta. 
   Quem tem essa rotina desregrada pode criar um banco de horas próprio, anotando o número de horas trabalhada e de horas excedentes para equilibrar com o número necessário de horas de sono, aconselha Ana Cristina Limongi-França, especialista em qualidade de vida no trabalho e professora da FIA (Fundação Instituto de Administração) e da USP. 
   Também vale ser rigoroso com os horários, diz Álvaro Pentagna neurologista do Hospital São Luiz. “Em casa, não há um fim de expediente claro como na empresa”, explica o médico. 
   E não adianta usar estimulantes para aguentar o dia. “Não dá para mascarar os sintomas de sobrecarga, uma hora o corpo pifa.” (ANA RANGEL - DE SÃO PAULO, página D3, caderno sobre TUDO, domingo, 26 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE S.PAULO).

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