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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

PARA PENSAR COM O CORAÇÃO

Marco Antonio Rossi: "É preciso revolucionar o jornal, ele precisa narra o mundo, em vez de, simplesmente, descrevê-lo"


   Livro de Marco Antonio Rossi, que será lançado nesta quinta-feira, traz contos permeados pelo pensamento de Walter Benjamin.

   Nesta quinta-feira (16), o professor e sociólogo Marco Antonio Rossi fará o lançamento de seu livro, “Coração de Benjamin”.
   Marco Antonio nasceu em 1974, na Vila Madalena, em São Paulo. Em 1992 mudou-se para Londrina e ingressou no curso de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Hoje em dia, Marco exerce a função de professor na mesma universidade. Sociólogo por paixão, formação e convicção, foi cronista no rádio, coordenou uma pós-graduação em cinema e publicou dois livros de poesia – “Nas ruas do mundo”, em 2012; e “Meu tempo”, em 2015 – e também escreve artigos para a Folha de Londrina, além de outras publicações. 
   “Coração de Benjamin”, que é seu primeiro livro de crônicas, foi lançado pela editora CEOS. O livro é inspirado na extraordinária história de vida do alemão Walter Benjamin, considerado um dos mais importantes pensadores modernos, conhecido por amar o impossível, se dedicar ao improvável e andar na contramão do mundo, seguindo seus sentimentos e seus princípios. 
   As crônicas reunidas neste livro – escritas em sua maioria da o rádio ou para seu blog – revelam um caminho plural de pensar e agir, em que o autor narra o cotidiano de forma a reinventá-lo e interpretá-lo, dando-lhe um sentido genuíno e especial.
O evento de lançamento que faz parte da programação do Festival Literário de Londrina, o Londrix, é gratuito e terá início a partir das 19 horas, na Biblioteca Pública de Londrina (Avenida Rio de Janeiro, 413). Confira abaixo, a entrevista concedida à Folha 2.

   Como aconteceu essa conexão entre a Sociologia e a literatura? 
Acredito que, na adolescência, a literatura me tenha lev ado à sociologia. Escritos, por exemplo, de Lima Barreto, Machado de Assis e, em destaque, Rubem Fonseca, fizeram-me querer saber mais sobre as questões sociais. As injustiças e desigualdades narradas pela literatura me levaram às reflexões e proposições de sociologia. Mais tarde, já sociólogo, percebi que minhas aulas e análises careciam de narrativas literárias, cenários, enredos, personagens. Voltei, então, á literatura. 

   Em que medida o pensamento de Walter Benjamin foi aproveitado no livro?
   Walter Benjamim me acompanha diariamente. Não sei dizer. hoje, se penso algo que não esteja em sintonia com aquilo que foi teorizado e vivido, pelo pensador alemão. Mais do que isso, acho mesmo que o coração de Benjamin bate, de alguma maneira, em meu peito.

   Quais temas do pensador permeiam o livro?
   Vários. Penso, em especial, na crítica à noção de progresso na sociedade capitalista moderna. Vem-me à cabeça, “O Anjo da História”, um lindo texto que Benjamin escreve tendo com ilustração o quadro Angelus Novus, de Paul Klee. Somos todos um pouco daquele anjo, perplexo, de costas para o que virá, presos ao que já foi e nunca pudemos compreender. 

   No livro tem uma crônica de nome “Censura”. Como você enxerga a censura no Brasil contemporâneo?
   A censura sempre existiu no Brasil. De modo efetivo ela se dá no silenciamento, produzidos pelos setores abastados da sociedade, ao subalternos. A criminalização de movimentos sociais e a “alegorização” (um conceito de Benjamin que fala do caráter decorativo de certos fenômenos da vida), da democracia, por exemplo, são exemplos da censura contemporânea, que dá vez e voz a poucos. 

Em “Grande Reportagem”, você enfoca um jornalismo de fôlego, mais “romântico”. Como você vê a realidade do jornalismo hoje em dia?
   Pouco romântica. A realidade do jornalismo hoje é a de buscar sobreviver à superficialidade e ao banal. A leitura de jornais está desaparecendo como hábito, principalmente entre os mais jovens. É preciso revolucionar o jornal. Ele precisa narrar o mundo, em vez de, descrevê-lo – não raro em defesa do interesse de poucos.

   Como você enxerga a sua função sendo, além de sociólogo, um articulista de jornal?
   Sou um professor de Sociologia que gosta de contar histórias. Acredito na responsabilidade pública de minha tarefa de ajudar na formação de jovens para o terceiro milênio. Quando insisto na intervenção pública, acredito no papel da difusão das ideias. Penso que minha maior contribuição seja no campo da teoria e do exemplo como sujeito, pai, educador, pesquisador. Essencialmente, acredito que minha contribuição esteja no campo de defesa da democracia e da liberdade. Nada que faço foge a esse compromisso. 


“ A ideia de uma reportagem é esmiuçar questões, sem jamais pretender esgotá-las. O intuito é buscar muitas fontes, contrastar verdades e pareceres. Um pouco mais: a reportagem, como toda boa e pertinente investigação, requer tempo, paciência, incríveis habilidades para a narrativa, a sedução, a persuasão. Acima de tudo, a reportagem reclama investimentos: viagens, livros, tecnologia, recursos humanos de primeiríssima linha”.
(Trecho da crônica “A grande Reportagem” que integra o livro “Coração de Benjamin”, de Marco Antonio Rossi). (DANIELI DE SOUZA – REPORTAGEM LOCAL, página 3, caderno FOLHA 2, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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