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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A DEMANDA DE APAGAR INCÊNDIOS


   As cenas grotescas continuam sucedendo-se no país abalado há cerca de um mês por rebeliões nos presídios que deixaram centenas de mortos. Se nas prisões há uma guerra flagrante de facções criminosas que se utilizam de meios cada vez mais violentos na disputa do poder, do lado de fora o panorama não é diferente. 
   Desde o último sábado ( 4), com a greve dos policiais militares na Grande Vitória (ES) o país assistiu atônito a uma onda de saques, roubos e mortes que demonstram a falta extrema de segurança num momento crucial do país. 
   Um Brasil em estado permanente de alerta tem se desenhado sem que se garanta a integridade física da população, tendo em vista os crimes que se sucedem causando de uma vez a morte de dezenas de pessoas. Na Grande Vitória, no último fim de semana o IML não tinha mais como receber corpos que aguardavam a perícia policial. O problema é que apesar do abalo psicológico que essas situações provocam, há nichos de população no Brasil para os quais a violência é corriqueira , como no caso das favelas nas grandes cidades ou nas periferias onde o cidadão está exposto a todo tipo de risco. Com a saída do ministro da Justiça Alexandre de Moraes para assumir uma nova função junto ao STF não se sabe ainda quais serão as diretrizes para enfrentar a violência crescente dentro e fora dos presídios, apagar incêndios, contemplar interesses e tapar buracos políticos tem sido a prioridade do governo. Atualmente, todos os cidadãos são prisioneiros de situações cada vez mais adversas e a instabilidade política, com ministros trocando de cadeiras, não soluciona o problema. A impressão é que há frouxidão para cumprimento de metas. Até aqui – seja no âmbito das rebeliões dos presídios ou do caos instaurado pela greve da PM no Espírito Santo – a única providência efetiva foi o envio da Força Nacional e de militares para conter a explosão que põe cidades brasileiras importantes em situação de guerra civil, só neste ano as baixas já somam centenas de mortos. Há tempos que especialistas internacionais apontam que a violência urbana no Brasil se equipara à dos países em conflito. Aqui as mortes acontecem por motivações diversas, mas temos no cotidiano brasileiro uma configuração que nos coloca entre os países mais violentos do mundo. Uma guerra particular que se não se deve a um conflito étnico reflete um conflito social intenso e cada vez mais profundo. Em breve, paliativos emergenciais podem não dar conta de um panorama que se relaciona às nossas mazelas políticas e econômicas que parecem insolúveis diante da demanda crescente de recursos para apagar incêndios sem que se encontre de fato a saída. Estamos sendo cegados pela fumaça interna. (OPINIÃO, página 2, quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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