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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA E DESCONTROLE


   O banho de sangue no complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) é mais uma prova da triste realidade que muitas autoridades da área de segurança pública não gostaria de admitir: a facilidade com que o crime organizado controla presídios no Brasil a ponto de causar a morte de 56 pessoas em um episódio de extrema violência. As mortes aconteceram entre as tardes de domingo (1) e a manhã de segunda-feira (2), durante confronto entre duas facções rivais, o Primeiro Comando da Capital (PCC), originário de S. Paulo, e o grupo local Família do Norte (FDN). Segundo as primeiras investigações, a rebelião foi comandada pela Família do Norte. Muitos dos presos assassinados durante a “guerra” dentro da penitenciária foram decapitados e, ainda segundo os investigadores, todas as vítimas sofreram muita violência. A matança é a maior em número de vítimas em presídios do País desde o massacre do Carandiru, em 1992. Não é fácil para o brasileiro admitir que podemos reproduzir em nosso território episódios tão cruéis quanto os crimes cometidos pelos terroristas radicais do Estado Islâmico. A matança em Manaus repercutiu duramente na imprensa internacional. O jornal italiano “La Reppublica” disse que “foram 17 horas de horror e violência”. Para o francês “Le Monde” , “as rebeliões são frequentes nas prisões do Brasil”. E o espanhol “El País” lembrou que a Região Norte do Brasil é estratégica para o tráfico internacional de drogas, afirmando ainda que o controle das prisões locais estabelece o poder sobre essa atividade. O inglês “The Guardian” e o norte-americano “The New York Times” não pouparam críticas ao sistema prisional brasileiro. As críticas, por aqui, têm vindo de entidades de defesa dos direitos humanos e de órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Nesse caso, a OAB anunciou que vai buscar responsabilizar de forma criminal e cível os gestores do estado do Amazonas pelo total descontrole. Para a Ordem, o governo do Amazonas tinha informações que a tensão entre as duas facções estava para explodir no Compaj. Se houve realmente omissão do estado, é preciso que os culpados sejam responsabilizados. A cada grave rebelião que ocorre no Brasil, a população ouve o compromisso de que o governo público vai acabar com a superlotação e combater a existência de gangues nos presídios. Mas a promessa fica esquecida até a ocorrência de mais um motim. (OPINIÃO, página 2, quarta. 4 de janeiro de 2017. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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