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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

FELIZ IDADE?


   São cada vez mais frequentes os anúncios relativos à terceira idade evocando o bem-estar dos idosos e colocando-os como potenciais consumidores já que uma parcela está aposentada podendo contar com algum ganho. Mas no Brasil, entre a ilusão de qualidade de vida e a realidade, existe um vácuo que impede as pessoas que já se aposentaram com salários muitas vezes irrisórios de aproveitarem aquilo que eufemisticamente também é chamado de terceira idade. 
   É certo que há uma indústria do consumo a serviço de quem tem mais de 60 anos, já criou os filhos e conta com uma aposentadoria depois de décadas de serviço. Há agências de viagens dedicadas à terceira idade, serviços de nutrição, clínicas geriátricas e uma poderosa indústria farmacêutica que pode tornar a vida dos idosos bem mais feliz. No entanto, a realidade brasileira está a anos-luz de todo este potencial de investimento na vida e a situação fica ainda mais delicada para aquela camada de população chamada “idoso velho” que se refere a quem tem mais de 78 anos. Saúde é necessidade básica dos idosos porque são mais sujeitos à doenças e a alta no preço dos remédios quase sempre vem cercada de insatisfação por parte da turma que não se sente exatamente contemplada com benefícios que poderiam aliviar suas dores, tornar seu cotidiano mais produtivo ou mesmo aumentar sua expectativa de vida. 
   No último dia 25, a FOLHA publicou matéria sobre o preço dos medicamentos e planos de saúde, com informações nada otimistas para qualquer família e, sobretudo, para quem tem mãe, pai ou avós que necessitam de medicamentos e cuidados constantes. Pelos índices para inflação da FGV/Ibre, os custos com medicamentos e com planos de saúde para os idosos sofreram um grande revés em 2016. A inflação desses itens, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Terceira idade (IPC-3i), foi a maior da série histórica calculada desde 2004. Os medicamentos ficaram 11,33% mais caros no ano passado e os planos de saúde tiveram um acréscimo ainda maior: 13,2%. 
   Os idosos entrevistados afirmam que medicamentos e planos de saúde são as maiores despesas de seu orçamento, ao mesmo tempo em que são indispensáveis. Resta contar com a distribuição de medicamentos gratuitos da rede pública ou apelar para as farmácias populares onde também há remédios grátis ou com até 90% de desconto. O problema se agrava em fases críticas quando nem sempre há remédios disponíveis para todos. Se no país a expectativa de vida da população aumentou 41,7 anos em um século, segundo dados do IBGE, subindo para 75,5 anos em 2015, resta torcer para que a inflação não consuma com preocupação o que seria motivo de felicidade. (OPINIÃO, página 2, segunda-feira. 30 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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