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domingo, 25 de dezembro de 2016

MENTE ABERTA - SOBRE CARREIRAS


   Quando foi a última vez que você começou algo do zero? Quantos estilos de músicas diferente você escuta? Por quais gêneros literários você já se aventurou? 
   Para professores de cursos voltados para a criatividade e pesquisadores do tema, ações como essas são o ponto de partida para “abrir a cabeça” e ter ideias novas. 
   “Quanto mais coisas eu faço, maior é o repertório e a biblioteca que eu tenho para consultar quando preciso resolver algum problema com uma solução diferente”, afirma Felipe Anghinomi, publicitário e um dos fundadores da escola Peretroiska de atividades criativas. 
   O local oferece aulas para quem quer soltar a imaginação. A metodologia privilegia a prática e a informalidade para tornar o ambiente propício à inovação, com atividades de pintura, ilustração, teatro e música. 
   Os cursos duram de uma semana a três meses e custam de R$ 700 a R$ 4.500.
   Para Fernando Suzuki, publicitário e co-fundador da escolar internacional de negócios MBI (Master of Business Innovation), que tem cursos focados em inovação, a criatividade se manifesta por meio da capacidade de relacionar informações desconectadas e encontrar um sentido para a conexão. 
    “Para criar relações novas é preciso ter uma boa percepção e enxergar o que ninguém havia visto”. Afirma. 
   Começar uma atividade diferente pode ser um bom impulso, segundo o neurocientista Fabrício Pamplona, pesquisador do Instituto D’Or.
   “Experimente um curso completamente novo ou uma viagem a um país estrangeiro do qual você pouco sabe. Coloque-se mais na posição de aprendiz”, recomenda. 
   Para ele, a criatividade vem com muita prática e insistência. “Primeiro é preciso esgotar todas as possibilidades mais óbvias para só então chegarem as ideias originais”, diz Pamplona. 
   Ainda de acordo com o neurocientista, um local de trabalho onde os funcionário têm mais autonomia e existem espaços de socialização é mais propício para o surgimento de novas ideias.
   “Levante, saia de seu lugar, faça mais pausas, faça perguntas, mantenha a mente livre, quebre a rotina. Esteja aberto à exploração, mas se permita explorar sem julgamento”, afirma. 
   Segundo ele, a leitura tem um papel particularmente especial no desenvolvimento de novas ideias. “O livro estimula as ideias originais, porque o leitor vira o autor da história enquanto gera imagens só suas”, explica. 
   EM AÇÃO 
   Ser criativo é uma demanda crescente em empresas de diferentes segmentos. A lista de companhias mais inovadoras de 2016, divulgada pela revista americana “Fast Company”, de inovação e tecnologia, incluiu diversos nomes de fora do mundo digital, como restaurante e até uma rede de farmácias. 
   A educação no formato atual, no entanto, falha em fornecer as ferramentas necessárias para a inovação, dizem os especialistas. 
   Para Maurício Tortosa, diretor da Ebac (Escola Britânica de Artes Criativas), a formação de um profissional criativo deve ir além do pensamento crítico. É preciso também conhecer questões burocráticas dos negócios para colocar ideias em ação. 
   Foi baseada nesse princípio que a Ebac incluiu a disciplina de empreendedorismo criativo em todos os cursos que oferece. 
   “Empreender também é um ato criativo”, afirma Bob Wollheim, professor da disciplina. “O objetivo é mostrar as competências que o aluno precisa e, assim, ampliar seu repertório”, completa. 

   ‘DEVEMOS VALORIZAR MAIS O TEMPO DE REFLEXÃO’, DI Z O PROFESSOR DA SCHOOL OF LIFE

   Dar uma pausa no trabalho para refletir é tão importante quanto produzir, defende David Baker, jornalista, co-fundador da revista “Wired”, sobre tecnologia e inovação. Hoje, ele atua como coach profissional e professor de cursos sobre criatividade e trabalho da School of Lifedo Reino Unido e do Brasil. Por e-mail, Baker conversou com a Folha sobre o assunto.

   Folha – Qual o papel da criatividade no dia a dia?
   David Baker – Pensamos que criatividade é só para artistas ou músicos, mas ser criativo é simplesmente pensar em um jeito diferente de fazer algo e testar para ver o que acontece. Fazemos isso quando experimentamos uma receita nova ou pensamos em um programa diferente para o fim de semana. Exercitar a criatividade nos conecta com o mundo. 

   Quais as melhores formas de estimular a criatividade?
   Algumas boas ideias vêm em momentos inesperados. Uma boa dica é anotar pensamentos que surgem durante o dia. Também é bom deixar a cabeça livre, fazendo pausas para caminhadas o colocando o pensamento em coisas diferentes do trabalho às vezes. 

   O que empresas podem fazer para estimular a inovação?
   Funcionário e chefes precisam entender que as melhores ideias aparecem quando estamos relaxados. Devemos valorizar o tempo para reflexão assim como valorizamos os momentos nos quais produzimos. Uma boa forma de estimular a reflexão é dividir as reuniões em dois dias, assim todos têm tempo para pensar e podem trazer novas ideias no segundo dia. (ELB). 

CURIOSIDADE SERVE DE COMBUSTÍVEL PARA CABEÇA FÉRTIL

   Profissionais que trabalham com criação em áreas como artes visuais e música consideram a curiosidade, o constante aprendizado e o contato com diferentes áreas os principais combustíveis para manter a cabeça fértil. 
   Daniel Malfa, 39, artista visual e fotógrafo que mora em São Caetano (Grande São Paulo), conta que passou por cursos como biologia e engenharia química antes de fazer graduação em fotografia. 
   “Gosto de estudar e, quando faço pesquisa para um novo trabalho, incluo o conhecimento de todas as área pelas quais já passei. Até estudar matemática faz parte do meu processo criativo”, diz. 
   Ele cria cenários, fotografa-os e usa técnicas especiais para revelar a imagem. Segundo ele, sonhos o ajudam a fazer as montagens.
   “Fotografo todos os dias experimentando diversos filmes, lentes e câmeras. Vou construindo um arquivo com as informações técnicas. Assim, quando aparecer uma ideia, vou saber qual a melhor forma de executar”, diz. 
   O compositor de música de orquestra Alexandre Travassos, 46, se formou clarinetista, mas, diz, aprendeu composição por conta própria. 
      “ O que um compositor coloca na partitura são fragmentos e notas de tudo que ela já ouviu na vida”, afirma Travassos, que já teve suas obras tocadas Experimental de Repertório, ligada à Fundação Theatro Municipal de São Paulo 
   “Quando escrevo, estou mobilizando todas as minhas referências”, afirma. Segundo ele, as inspirações têm diversas fontes: “Pode ser uma música folclórica que ouvi em um outro país ou uma cor que associo a algum som e tento converter em melodia.”
   A leitura também é muito importante nesse processo. “A música é uma narrativa em outra língua”, diz. (ELB) ( EVERTON LOPES BATISTA – DE SÃO PAULO, caderno SOBRE TUDO, página D5, SOBRE CARREIRAS, domingo 25 de dezembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE S.PAULO).

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