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terça-feira, 25 de outubro de 2016

COMPARAÇÃO E METÁFORA


   Quando estamos escrevendo um texto, tentamos sempre passar as ideias com clareza e expressividade, ou seja, transmitir as informações de forma a não deixar dúvidas sobre o que queremos dizer, da maneira mais completa possível. 
   A clareza vem da correta organização das informações, a fim de evitar ambiguidades ou qualquer tipo de confusão. Já com relação à expressividade, que é a capacidade de expressarmos tudo o que realmente queremos passar em um texto, depende, principalmente, da escolha das palavras utilizadas. 
   Por exemplo, se você diz que “tal pessoa é linda”, está sendo claro na informação que quer passar, mas se dizer que ela é “linda como uma flor”, a qualidade da pessoa (ser linda) é intensificada, ou seja, você conseguiu uma expressividade. Da mesma forma, dizer que “a sala está um forno” é uma frase muito mais expressiva que simplesmente “a sala está quente”, ainda que as duas tragam a mesma informação. 
   Nos dois casos, utilizamos um recurso muito comum em língua portuguesa: figuras de linguagem. Especificamente, duas delas: a comparação e a metáfora. As duas consistem no uso de uma palavra ou expressão fora de seu conceito habitual. Não estamos nos referindo a uma flor nem a um forno propriamente dito, mas sim a algumas características desses objetos, que relacionamos à pessoa e à sala, respectivamente. 
   Na comparação, essa relação é estabelecida através do uso de um conectivo: “como”, “tal qual”, etc. Já a metáfora não utiliza esses conectivos. É um tipo de comparação mais direta, implícita, ou, como dizem certos professores, uma comparação abreviada. 
   “Meu primo é forte como um touro!” – Trata-se de uma comparação, evidenciada pela presença do conectivo “como”. 
   “Meu primo é um touro!” – É uma metáfora.    Já que não usa nenhum conectivo para demonstrar a semelhança entre primo e o touro. 
   As figuras de linguagem, de um modo geral, são muito frequentes em textos literários, como poesias e letras de músicas. Na hora de interpretar o que o autor quis dizer ao utilizar uma delas, é necessário atentar para qual relação ele pretendeu estabelecer entre os elementos citados. 
   Por exemplo, quando Vinícius de Moraes, em seus Soneto de Fidelidade, afirma que o amor é uma “chama”, num claro exemplo de metáfora, temos que pensar nas possíveis características de uma chama que poderiam ser associadas ao amor. No caso do poeta citado, o próprio Vinícius nos ajuda a entender: 
   Eu possa me dizer do amor (que tive) : 
   Que não seja imortal, posto que é chama
   Mas que seja infinito enquanto dure.
   Como ele mesmo afirma, o amor não é imortal (como qualquer chama uma hora se apaga), mas é “infinito” (intenso) , enquanto dura, também como o fogo é forte, intenso. 
   Em alguns casos, a mesma metáfora (ou comparação) pode ser usada por vários autores, em contextos distintos, devido a sua grande expressividade. No caso do exemplo citado acima, Vinícius de Moraes compara o amor a uma chama, como já havia feito o poeta português Luís Vaz de Camões quatro séculos antes, ao afirmar que o “amor é fogo que arde sem se ver”.
   É bastante provável que você conheça muitos outros exemplos de comparação e de metáfora, inclusive no seu dia a dia, como quando diz que um problema “é um abacaxi” (metáfora) ou que Fulano é “burro como uma porta” (comparação). Sendo assim, vamos propor um pequeno exercício: comece a prestar atenção e, quando notar a ocorrência de uma dessas figuras, tente interpretá-las, identificar qual a semelhança entre os elementos associados. No caso do abacaxi, por exemplo, é provável que os espinhos da fruta sejam os responsáveis pela relação com um problema. Você também pode fazer esse exercício com um poema de que goste ou com a letra de suas músicas favoritas. 
   Se tiver alguma dúvida mande um e-mail. 
   Até a próxima terça!
(FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL, * Encaminhe as suas dúvidas e sugestões para bemdito14@gmail.com caderno FOLHA 2, terça-feira, 25 de outubro de 2016. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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