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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PARAPLÉGICA POR OPÇÃO


   Mônica da Silva Santos, uma mulher brasileira, nascida no Estado do Rio Grande do Sul, decidiu ser paraplégica por opção. Durante a sua gravidez foi-lhe diagnosticada uma fraqueza até então inexplicável nas pernas, atribuída à descoberta de um angioma medular. Ouviu dos médicos que o aconselhável seria interromper a gestação para evitar que a lesão pressionasse ainda mais a medula, o que poderia causar tetraplegia.
   A gaúcha contrariou a recomendação e assumiu o risco. Sua vida se transformou a partir daquele momento. Hoje é a única brasileira a competir no esgrima das Paralimpíadas. Este poderia ser o maior dos méritos à vista de todos nós, inúmeras barreiras superadas, títulos obtidos e conquistas alcançadas.
   Mas a vida dessa mulher está ligada à vida da sua filha, a quem salvou e aceitou mesmo contrariando as apreciações da ciência. Mônica é a voz que clama no deserto. “Endireitai as vias”. Ela afirma que decidiu não abortar por uma razão humanitária e não religiosa. 
   Um mundo insensível, um mundo no qual as razões que imperam para acabar com a vida humana são cada vez mais ouvidas, um mundo que se dá ao luxo de promover campanhas de solidariedade, mas que não se faz solidário no transcendente dom da vida humana precisa ouvir, ver e entender atitudes como as de Mônica. 
   No momento histórico em que vivemos, temos sérios conflitos sociais a serem sorteados, a migração dos pobres, a manipulação das pessoas, a eugenia, a guerra entre as gangues e, o que é pior, a sórdida avidez da ganância. 
   Tudo isso somado, nos leva a rever nossa postura frente à vida de cada pessoa. Não podemos continuar indiferentes ou, o que é pior, calados diante de tudo que está acontecendo. 
   Tenho medo do silêncio dos inocentes. Estão acontecendo as Paralimpíadas, muitas histórias incríveis de pessoas que decidiram olhar para o horizonte e não se sentirem limitadas, sabendo lidar om a frustração; enfim, tempo de reflexão e de enxergar ainda mais longe numa nação e num mundo que falam de inclusão, mas que cada vez mais têm inúmeros excluídos e marginalizados, minimizados e aniquilados. 
   Precisamos nos deter para refletir sobre muitas “Mônicas” que proclamam a alegria de viver e de acreditar num mundo melhor, pois sabem que o maior dom de um ser humano é se sensibilizar. Sermos sensíveis nos transforma, nos faz capazes de mudar nossa agressão em ternura e nossa indiferença em amor. 
   Vivamos esses dias de Paralimpíadas como um tempo de grandes riquezas, em que as medalhas e as medalhistas não subiram até os pódios e sim os pódios irão até cada uma delas, onde o ouro, a prata e o bronze, muito mais do que grandes contratos comerciais, serão o sinal visível de que a vida humana deve ser vivida intensamente em todas as suas realidades. 
   Obrigado, queridos atletas paraolímpicos, vocês são o sinal claro e contundente do quanto ainda falta a nós, “incluídos” para nos tornarmos sensíveis e mais humanos. (JOSÉ RAFAEL SOLANO DURÁN, sacerdote da Arquidiocese de Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, segunda-feira, 12 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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