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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O VERGONHOSO FINAL


   Uma foto tirada no dia 1º de fevereiro de 2015 ficou famosa ao mostrar o então recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comemorando a vitória de maneira exacerbada, ao lado de vários aliados igualmente felizes. Naquela data e nos meses que seguiram até a sessão na Câmara que detonou o impeachment de Dilma Rousseff, ninguém imaginava que Cunha seria cassado com uma diferença de votos esmagadora: 450 votos a favor da cassação e apenas 10 contrários. Foram nove abstenções. Um número bem acima dos 257 votos necessários para derrubá-lo. Para quem sempre foi acostumado a estar cercado de aliados, foi surpreendente assistir ao isolamento de Cunha no plenário da Câmara, na noite de segunda-feira. O pivô do impeachment da ex-presidente Dilma foi cumprimentado por poucos e, após a votação, saiu da Casa cercado de seguranças e ao som de “Fora Cunha”. A maioria dos congressistas inscritos para usar palavra era a favor da cassação e poucos aliados tiveram coragem de defender o político que agora fica inelegível até 2027. O prazo de inelegibilidade conta o período remanescente do mandato, que terminaria em 31 de janeiro de 2019. E os oito anos seguintes. Caso queria se candidatar, haverá eleições municipais em 2028. O processo de cassação durou 11 meses e aconteceu porque Cunha teria mentido em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Réu na Lava Jato, negou que tinha contas no exterior, mas as provas apontaram o contrário. Agora, ele deverá ser julgado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato. Cunha saiu da Câmara com a mesma altivez e arrogância que assumiu a cadeira de presidente da Casa. Também saiu fazendo ameaças, anunciando que vai escrever um livro e que revelara na sua primeira empreitada literária todas as conversas que teve com outros políticos sobre o impeachment da ex-presidente. Desempregado, enquanto atira desavenças para todos os lados, Cunha disse que pretende encontrar uma editora que publique o seu livro, com o qual ele quer ganhar muito dinheiro. A cassação de Cunha encerra um ciclo político. Não que a Câmara ficará livre do fisiologismo ou da articulação política predatória. Mas sempre há esperança de um novo momento, com miais ética e transparência. (FOLHA OPINIÃO opiniao@folhadelondrina.com.br página 2, quarta-feira, 14 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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