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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

IMAGENS DA DAITADURA

Foto de Evandro Teixeira, na igreja da Candelária (Rio), no dia da missa em memória do estudante Edson Luís, morto durante a ditadura

   Paulo Boni fala amanhã sobre “As condições de trabalho dos fotógrafos da imprensa durante o AI 5” em palestra promovida pelo Foto Clube

   A fotografia jornalística foi um dos principais instrumentos de crítica ao regime militar instaurado no Brasil entre 1964 e 1985. Fotógrafos de importantes veículos de comunicação daquele período conseguiram driblar a censura imposta pelo Ato Institucional Nº 5 e registraram cenas icônicas da época considerada uma página infeliz da história do País. “As condições de trabalho dos fotógrafos da imprensa durante o AI 5” será tema de uma palestra que integra a programação da Semana Fotográfica de Londrina. O assunto será abordado amanhã, às 19 horas, na sede da Associação Médica, por Paulo Boni, docente do curso de Fotografia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Promovido pelo Foto Clube, o evento é gratuito e aberto a toda a comunidade.
   Durante o encontro, o palestrante relembrará depoimentos de dez fotógrafos que tiveram papéis de destaque durante a ditadura: “Vou narrar fatos que eles me contaram em entrevistas que realizei para a minha tese de pós-doutorado em Fotografia realizado na USP, produzidas em 2013”, relata Boni. 
   O docente destaca que a motivação para investigar o tema surgiu de uma inquietação pessoal. “Existem muitos discursos prontos e frases feitas sobre o cerceamento à liberdade e à perseguição política durante a ditadura. Então resolvi as declarações de quem realmente viveu aqueles episódios”, relata. 
   Após selecionar os profissionais que atuaram em alguns dos mais representativos veículos de comunicação da época, Boni viajou a diversas cidades para fazer as entrevistas. “Entrevistei dez fotógrafos que atuaram nas revistas O Cruzeiro, Veja e nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, entre outros. Nomes importantes como Evandro Teixeira, Orlando Brito e Luís Humberto participaram da pesquisa”, conta. 
   Boni comenta que a maioria dos entrevistados relatou não ter sofrido nenhum tipo de agressão por parte dos militares. “Alguns contaram que chegaram a ser presos, mas que foram libertados horas após terem sido levados à delegacia. Nada que lembre aquele velho discurso de terem câmeras apreendidas ou violência física”, diz. 
   Segundo ele, a única a sofrer consequências mais pesadas foi a fotógrafa paulista Nair Benedicto. “Ela contou que foi presa, torturada e perseguida. E que, em 1969, teria dividido a cela com Dilma Rousseff. Mas no caso dela essa perseguição aconteceu por pertencer a uma família de ativistas. Nair contou que pretendia trabalhar na televisão, mas não conseguiu porque para ingressar em emissoras os militares exigiam atestado de boa conduta, que ela nunca conseguiu apresentar por ter passagem pela polícia. Então passou a se interessar pela fotografia. Mas no caso dela, a perseguição não aconteceu por sela ser fotógrafa e sim por ela ser uma ativista contra o regime militar”, enfatiza. 
   Além dos depoimentos durante a palestra Boni também pretende mostrar durante a palestra de amanhã algumas fotografias que os entrevistados produziram durante a ditadura. “O evento é aberto a todas as pessoas. Usarei uma linguagem bastante simples. Será um bate-papo interessante. Algumas entrevistas que vista para a tese de doutorado estão na versão eletrônica da revista ‘Discursos Fotográficos’, produzida pela UEL, e que é a maior publicação da área no País”, informa. O endereço para acessar a revista é www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotográficos

   SERVIÇOS

   Palestra: “As condições de trabalho dos fotógrafos da imprensa durante o AI Nº 5”
   Quando : - Amanhã , às 19 horas
   Onde: Associação Médica de Londrina – (Av. Hary Prochet, 1005
   Quanto: Gratuito. (MARCOS RAMON – Reportagem Local, página 5, caderno FOLHA 2, terça-feira, 16 de agosto de 2016, puBlicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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