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quarta-feira, 20 de julho de 2016

A VOZ DO ESCRITOR




   Um estudante de esquerda quer me entrevistar. Vou facilitar o trabalho dele – e falar hoje sobre o meu credo particular de escritor. 
   Embora o trabalho do escritor seja solitário, seu papel é romper a solidão e o isolamento das pessoas. Por esse motivo, não há maior alegria para um profissional das letras do que ouvir da boca de um leitor: “Você conseguiu expressar em palavras o que eu sinto”. 
   Sem medo de parecer demagógico, afirmo que escritor deve dar voz aos que não tem voz – àqueles cidadãos comuns que não se encontram representados por nenhum partido, nenhum movimento social, nenhum grupo de influência. Não há surpresa nenhuma em ouvir de um cara conservador; o grande objetivo do conservadorismo é justamente preservar os valores  fundamentais da condição humana. 
   Escrevo, acima de tudo, para aqueles que estão perplexos. A palavra “perplexidade” designa o estado mental de alguém que não sabe o que fazer diante de uma situação inesperada, crítica ou absurda. É assim que a maioria dos brasileiros está hoje: perplexa. O escritor ousa olhar nos olhos do absurdo e dar-lhe uma forma compreensível através da linguagem, para que assim o leitor possa agir e se libertar da paralisia. 
   Sim, amigo leitor, eu sei que você está perplexo. Por isso quero ser sua voz.
   Quero ser a voz dos angustiados pais da adolescente que pintou o cabelo de azul e sai com um rapaz ou garota diferente a cada fim de semana. A voz da mãe do jovem viciado em crack que está roubando os objetos da casa para comprar mais droga. A voz dos pais que não quer seus filhos frequentado festas com maconha à vontade, nem dançando peladões no campus.
   Talvez eu possa ser a voz do aluno brilhante que tirou uma nota medíocre na redação do Enem porque se recusou a escrever o que os examinadores queriam e criticar a “família tradicional”.
   Que eu possa um dia ser a voz do universitário que é perseguido por certos docentes só porque não comunga dos ideais conquistados. Ou a voz daquele funcionário religioso que trabalha no campus e não pode assistir a missa na capela de madeira. Ou mesmo a voz daquele rapaz homossexual que é discriminado por entender que sexo é um assunto da esfera privada e não pertence a nenhum grupo militante. 
   Quero ser a voz da mulher do policial que não sabe se o marido vai voltar vivo hoje: do pai que não aceita aula de educação sexual para crianças; do psicólogo que refuta a ideologia de gênero e acha que meninas de 10 anos e homens de 50 não podem frequentar o mesmo banheiro. 
   Que Deus me dê forças e inteligência para ser a voz do velhinho roubado pelo ex-ministro; do artista que acredita na beleza; do pequeno empresário pagador de impostos, cheio de dúvidas e dívidas. Que cada letra e palavra aqui publicadas sejam a voz de quem, feito você, não quer nunca mais ser governado pelos assaltantes fantasiados de vítimas. 
   Que eu seja essa voz, ou me cale para sempre. ( Crônica do jornalista e escritor PAULO BRIGUET, página 5, caderno FOLHA CIDADES, espaço coluna AVENIDA PARANÁ por Paulo Briguet. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br , segunda-feira, 18 de julho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).    

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