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sábado, 18 de junho de 2016

SANTO ANTÔNIO, SÃO JOÃO E SÃO PEDRO, ROGAI POR NÓS


   Motivado pelo clima que se aproxima, procuro entre fotos e vagas recordações na memória relembrar as festas juninas da família. Entre uma Caloi Roxa e uma Barra Forte amarela, a única diferença era o porte físico dos dois garotos que rumavam ao “Três Figueiras”. 
   Chegando lá, sempre nos encontrávamos com a tia Maria. Após algumas garrafas de água para repor a energia, recebíamos as instruções para os preparativos da festa que se aproximava. Muito guerreira, nascida e criada no sítio, Tia Maria nunca abandonou raízes. Casada e mãe de dois filhos, sempre foi a melhor amiga da minha avó. Duas filhas mulheres mais velhas entre os nove irmãos, eram elas quem organizavam o terço da festa junina da família. 
   Varrer todo aquele terreiro, pintar as pedras com cal, e até mesmo improvisar um portal de entrada para a família, eram algumas de nossas tarefas. Depois de todo o serviço realizado, o esforço que se transformara em fome se materializava como recompensa no cheiro de pão caseiro que vinha lá da cozinha.
   Uma coisa que sempre me chamou a atenção era a forma com que a Tia Maria, humildemente, sempre nos recebia em sua casa. Enquanto aquele pão ia sumindo gradativamente, fatia após fatia, contos ou histórias que a tia Maria nos contava eram o enredo de um jogo de cartas para distrair.
   De volta aos trabalhos, era hora de finalizar os preparativos. A montagem da fogueira era, sem dúvida nenhuma, o ápice da festa. Toda madeira, galhos e até pneus velhos encontrados no sítio eram matéria-prima da nossa fogueira. Pouco a pouco, o barulho dos motores dos carros ia invadindo aquele silêncio que se faz no meio daquela imensidão de terra e mato.
   Assim que começava o terço, entre um mistério e outro, corríamos, meu primo e eu, onde explodíamos um rojão no alto do sereno na note de São João, no sítio da Tia Maria. Explodia dentro do meu peito a alegria de quem gostava de toda daquela festa. Lá dentro, vozes desafinadas cantavam um hino qualquer em louvor aos santos do mês, enquanto lá fora atacávamos a mesa das guloseimas. O mantra “Santo Antônio, “São João e São Pedro, rogai por nós”, soava como sirene para o próximo rojão.
   Eu ainda não encontrei um verdadeiro sentido da palavra saudade. Mas algo que se aproxima muito e que me fez ter esse sentimento enquanto escrevo esse texto são as lembranças daquele tempo onde smartphones, tablets e tecnologia nenhuma no mundo vão me devolver. (GUSTAVO ANDRADE, jornalista em Londrina, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 18 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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