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segunda-feira, 27 de junho de 2016

REFLEXÕES SOBRE LEITURA LITERÁRIA


   A leitura de um texto literário vai além de uma mera decodificação de signos linguísticos impressos na página do livro ou na tela do computador ou celular. Ela é um procedimento mental que leva em consideração outros aspectos, tanto referentes ao ato da criação (biografia do autor, momento histórico e condições sociais em que o texto foi produzido, e o modo como ele foi elaborado esteticamente), quanto ao da recepção (conhecimentos prévios do leitor sobre o autor, texto, tema, outros elementos externos que estejam internalizados nele e, principalmente, a fruição). 
   Através desse procedimento, o leitor constrói sentidos e ressignifica o texto por meio de sua leitura, pois ela torna-se a apreensão de todos os dados possíveis explícitos ou não no texto, com o preenchimento de todas as lacunas que ele possui. 
   A leitura literária tem a capacidade de mudar pontos de vista e conceitos do leitor, refletindo uma de suas qualidades educativas. Outro ponto importante é que ela não produz uma única interpretação, pelo contrário, toda leitura permite várias interpretações, dependendo do momento em que o eleitor a executa, pois, conforme já afirmamos, ele constrói e ressignifica o texto, de acordo com o conhecimento que tem naquele momento, que é a sua contrapartida no ato da leitura, que, na verdade, é um grande diálogo entre autor, texto e leitor. 
   Dessa forma, um texto lido hoje, se relido na semana que vem ou no mês seguinte pelo mesmo leitor, terá diferentes leituras em cada um desses momentos, e assim sucessivamente: a cada nova leitura o texto adquire novos significados, pois o conceito de leitura está estreitamente vinculado à concepção histórica, política, econômica, educacional e ideológica de cada momento, tanto no momento da produção do texto quanto da sua leitura. 
   Por outro lado, a leitura também pode )e deve) causar estranhamento ao leitor, levantando-o de uma postura passiva, de empatia com o texto, a uma postura ativa, de conflito com o texto, um conflito positivo, diga-se, pois ele ocorre quando o leitor entre em contato com um texto diferente daqueles aos quais está habituado e por isso não consegue, num primeiro momento, viabilizar sua experiência para sua interpretação e compreensão, o que vai ocorrer somente após refletir sobre ele, fato que só enriquecerá a experiência do leitor. Dessa forma, a leitura é sempre um apelo ao diálogo de vozes, que tanto pode resultar em atos de comunhão como atos de provocação e estranhamento. 
   E desse diálogo, com comunhão estranhamentos e conflitos, o leitor deve sair sempre ganhando, pois a leitura literária pode educar e humanizar o leitor a cada vez que é realizada, oferecendo novas possibilidades de ler e compreender o mundo, e também a si próprio, e assim tolerar o pensamento divergente, possibilitando uma convivência respeitosa e equilibrada com as pessoas em sociedade. 
   Dessa forma, a leitura é um processo que completa o texto literário, pois este só vai ser sentido quando houver a figura do leitor que interprete e desvende a sua mensagem. O escritor concebe-o, mas para ele ser completo e existir realmente como texto, ganhar vida, há que se ter a presença e a participação de um leitor. Sem ele, o texto é um objeto inanimado. E assim a leitura é um momento mágico em que a criação (texto) adquire vida pelo sopro do leitor. ( DONIZETH SANTOS, professor de Língua Portuguesa da Faculdade de Telêmaco Borba, página 2, ESPAÇO ABERTO, segunda-feira, 27 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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