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segunda-feira, 27 de junho de 2016

EDUCAÇÃO CONTRA A CULTURA DO ESTUPRO


   O estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos, no Rio de Janeiro, abriu os olhos dos brasileiros, para a necessidade de prevenir a chamada “cultura do estupro”, que nada mais é do que considerar “natural” a apropriação do homem sobre o corpo da mulher, abrindo caminhos para a prática da violência sexual. 
   A prevenção e o combate desta prática dependem também da forma como educamos nossas crianças. Desde muito cedo, os garotos são incentivados a serem “pegadores”, através de perguntas sobre “namoradinhas” ainda na primeira infância. As meninas, ao contrário, são incentivadas a serem “comportadas e puras. 
   Desde a vida precoce da criança, a sociedade reforça que o homem pode se envolver com muitas parceiras e que é violento por natureza, enquanto as mulheres são ensinadas a serem submissas, cuidadas pelo homem, a não se envolver em farras ou usar determinados tipos de roupas. Quando a violência sexual ocorre, ao invés de responsabilização do homem pelo seu comportamento agressivo, é comum culpabilizar a mulher por motivos como usar roupas curtas, horário de estar na rua ou dançar em uma boate. 
   Estas práticas culturais são reforçadas e fortalecidas há muito tempo, o que impõe na população feminina a insegurança e o medo de sofrer violência sexual. 
   O amplo acesso à tecnologia, através da internet e das redes sociais, está aumentado a conscientização sobre o problema. Nas redes, há maior informação e divulgação de crimes de estupro e abusos contra o gênero feminino, o que gera apoio às vítimas e as incentiva a denunciar o estuprador. O empoderamento da mulher em reconhecer o que são as formas de abusos contra ela é uma das mais importantes ferramentas na luta contra a cultura da violência sexual. 
   O combate à cultura do estupro depende principalmente da educação, que permite prevenir os abusos ao invés de apenas lidar com as consequências deles através de punições. Meninos devem ser educados a respeitar e as vontades e os limites impostos pelas meninas. Saber ouvir e aceitar um “não” é o primeiro passo para a construção de uma relação mais saudável com o sexo oposto. Cabe aos pais e responsáveis ensiná-los sobre isso na infância e reforçar o conceito na adolescência, tornando-os capazes de compreender e respeitar limites. 
   As garotas, por sua vez, precisam compreender que o respeito não é construído em uma relação de coerção que anula os próprios desejos. A sociedade será mais igualitária na medida em que os homens respeitarem as mulheres, ao mesmo tempo em que elas se tornem mais fortes e seguras. Os adolescentes vão crescer e ganhar o mundo de forma protegida se tiverem acesso a diálogos constantes e honestos sobre as formas de violência, o que não é fácil e exige uma segura coragem por parte dos pais. Estes devem educar seus filhos a fim de torná-los sujeitos que apresentem comportamentos de civilidade e respeito, e desta forma, destaca-se a extrema importância que temas que há um tempo atrás eram considerados “tabus! (como violência e abuso sexual, bem como formas de prevenção, sejam trazidos para suas casas. Ambos os sexos devem ser educados para o fim da cultura da violência sexual. Fingir que este assunto não existe ou considerar que está longe de acontecer dentro da família não resolve o problema. Os pais e responsáveis devem acolher quando o jovem traz o tema para casa, promovendo um debate franco como forma de prevenir a violência. (CLÁUDIA RAZENTE CANTERO, psicóloga do Núcleo Evoluir em Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, sexta-feira, 24 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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