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terça-feira, 7 de junho de 2016

DEUS NUNCA É DEMAIS



   Um leitor falou que estou falando muito de Deus no jornal. Na sociedade contemporânea, secularizada e materialista, muitos devem achar que ele está com a razão. Ora, eu penso exatamente o contrário: se fosse possível falaria expressamente sobre temas espirituais e religiosos em TODAS as crônicas.
   Gostaria de escrever bem menos em política, por exemplo. Se me fosse dado ficar um ano sem mencionar o PT ou as armadilhas esquerdistas, ah, seria uma bênção! Acontece que não dá. Milhões de pessoas sofrem e morrem com a perversão política; omitir-se equivaleria a um crime. Ser cristão não é ser alienado. 
   De certa forma, tudo que escrevo está envolvido pela existência de Deus. Uma das frases que definem meu trabalho é de São Paulo apóstolo: “NEle vivemos, e nos movemos e somos”. Mesmo quando sou duro nas palavras, no fundo o que estou fazendo é tentar imitar Jesus Cristo, que chamava os hipócritas de “raça de víboras” e chicoteou os vendilhões do Templo. Ser cristão não é ser bonzinho. 
   As chagas de Cristo são a imagem e a semelhança da condição humana. Nós somos a ferida. Quando faço guerra contra os males da corrupção, da mentira, da violência, do autoritarismo e do egoísmo, estou procurando agir como o samaritano, que cuidou do viajante ferido pelos assaltantes e deixado meio morto na estrada. Para mim, não há diferença se um estupro coletivo aconteceu numa favela do Rio ou num acampamento do MST – são dois crimes igualmente abomináveis, e devem ser denunciados com todas as forças. Se um professor ou estudante é perseguido injustamente, não quero saber qual é a sua posição política ou religiosa; importa defende-lo. Ser cristão é não fazer acepção de pessoas. 
   Quanto trato de temas culturais, estou do mesmo modo falando sobre Deus. Na minha longa noite ateísta, encontrei Deus por diversas vezes nos livros de Tolstói, Henry Miller, T. S. Eliot, W. B. Yeats, Euclides da Cunha e até nos ateus renitentes como Sigmund Freud, Ernest Hermingway, Philip Roth, Graciliano Ramos, e isac Deustcher . Todos eles falavam de Deus, embora eu não admitisse a Presença. Ser cristão é ter sede de saber. 
   Se o assunto é s família, estou falando de Deus com todas as forças! Ele poderia ter vindo com um exército com um movimento político ou com um milagre – mas escolheu vir com uma família. Haverá motivo maior para amarmos a família? Nem a morte nos separa: ser cristão é pertencer a uma família eterna. 
   Quando contemplo a cruz no alto da Higienópolis, colocada ali pelos padres redentoristas há 35 anos, sou dominado por uma certeza consoladora: Deus não é uma solidão; Deus é convívio.
   Amigos, não me peçam para trocar de assunto. Não me peçam para negar a mim mesmo. Pedir que eu fale menos de Deus é pedir que eu me cale – e isso eu não vou fazer, enquanto tiver voz. Ser cristão, no meu caso, e o outro nome para ser. (Crônica do jornalista e escritor PAULO BRIGUET. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br página 3, caderno FOLHA CIDADES, coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, terça-feira, 7 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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