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segunda-feira, 6 de junho de 2016

A ALEGRIA É A SALVAÇÃO



   Vamos aproveitar a sensação de término e começo de ano para refazer os votos e ampliar nossas aspirarções por Gustvo Gitti

   SE TIVESSE de apostar, diria que é a alegria que vai salvar a humanidade. A alegria cura a depressão. Se eu me alegro apenas com os eventos da minha vida, fico feliz a cada seis meses, com sorte. Porém, se me alegro com as alegrias dos outros, é difícil não me sentir nutrido todos os dias. A alegria é o antídoto para a inveja. Ao nos depararmos, por exemplo, com gestos e habilidades positivas, com a beleza de alguém, com a habilidade de uma musicista, podemos competir ou nos regozijar. 
   A alegria nos impede de transformar em obrigação aqueles trabalhos que começamos por liberdade e prazer. Ela nos traz de volta ao corpo – se estamos sensíveis, é muito mais difícil cometer um ato violento, já que sabemos que o outro também sente. A alegria nos tira da preguiça irresponsável O melhor da vida é inadiável, como o pôr do sol, o parto, a morte. Cada segundo conta. A vida vem sem botão de soneca. Ao tentar postergar nosso despertar, deixamos para as próximas gerações os problemas do aquecimento global, do desmatamento, da desigualdade, do shopping center.
   A alegria nos devolve o tempo que perdemos entre a distração e o torpor, entre a correria e o tédio, os dois extremos da apatia. Correria é a sensação de que temos pouco tempo – o momento já passou, estamos atrás. Tédio é a sensação de que temos muito tempo – o momento ainda não chegou, estamos à frente. Nenhum deleite surge daí , mas de uma presença sincronizada: nem antes, nem depois, nem atrás, nem à frente, nem mesmo no famoso “aqui e agora”, tão insubstancial quanto o passado e o futuro. Lembro do poeta Octávio Paz: “Nós somos o tempo, não são os anos que passam, mas nos que passamos”. 
   A alegria não vem de coisas, mas da capacidade de se alegrar com qualquer coisa. Ela é o grande critério: para saber se uma relação está saudável, sinta se o seu coração se alegra sem esforço, apenas de desejar o florescimento do outro.
   A alegria é a própria paz. Se fizermos o voto de não deixar ninguém fora, qual será o tamanho do nosso peito? Não é o caso de incluir: eles sempre estiveram no mesmo barco, precisamos apenas parar de teimar que eles não estão. A origem de todas as guerras é a crença de que existem inimigos. Se incluímos apenas família e amigos, aqueles seres que são “meus ou minhas alguma coisa”, nos limitamos. Mas, se nos dispomos a incluir absolutamente todos os seres, nossa alegria tende a perder os limites. Não pense que é impossível: Lama Padma Samten costuma dizer que a nossa mente é tão ampla que consegue chorar até mesmo por um personagem de cinema! Sem tanto autoconcentramento, não mais oscilamos entre “Tô bem” e “Tô mal” – paramos de pensar nesses termos. Quando alguém nos perguntar “Como foi a semana?”, vamos descrever não a nossa mas a de muita gente. 
   Ofereço e dedico este texto a você. Que você possa se reconhecer como sendo a mesma vida que acontece lá fora, a mesma vida que respira em todos os seres e aparências em seu redor. Como não se alegrar? (FONTE:  GUSTAVO GITTI é coordenador do olugar.org(espaço online de transformação). Se site é gustavogitti.com página 51, QUARTA PESSOA, publicação da REVISTA VIDA SIMPES, janeiro 2016, Edição 166 Editora Abril).

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