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terça-feira, 17 de maio de 2016

QUANDO O APRENDIZADO VALE MAIS QUE O SALÁRIO

  "Quero aprender, buscar novos conhecimentos, saber como funciona, participar das rotinas. O dinheiro não está em jogo agora", conta Ana Paula Armando

   Pesquisa aponta que opção pelo conhecimento tem sido priorizada por estagiários

   No mercado de trabalho, a expressão “o dinheiro fala mais alto” é quase uma unanimidade. Na maioria das vezes, a oferta salarial é o que vale na hora de encarar um novo desafio. Mas pelo menos entre os estagiários, essa realidade tem mudado nos últimos anos. Claro que a maioria, até por uma questão de necessidade, tenta conciliar aprendizado e remuneração, mas quando isso não é possível a opção pelo conhecimento tem ganhado valor entre os estudantes.
 
Ao menos é o que aponta uma pesquisa realizada pela Companhia de Estágios de São Paulo, agência responsável pelo processo seletivo dos programas de estágio em grandes empresas no País. O levantamento revelou que, especialmente entre os jovens que têm pouca ou nenhuma experiência, conseguir uma boa colocação vai muito além de ganhar um bom salário; é preciso conseguir uma vaga que garanta aprendizado profissional. De acordo com a pesquisa que ouviu mais de 1,7 mil entrevistados em todas as regiões do País, 62,8% dos candidatos a vagas de estágio têm como maior expectativa o aprendizado profissional. 
   É o caso de Ana Paula Durante Armando, de 28 anos, Estudante do quinto e último do curso de Psicologia , na Unopar, em Londrina, elea recebe uma ajuda de custo pelo  estágio em uma clínica de Psicologia. Mas isso está em segundo plano na sua ordem de valores. O maior ganho, a essa altura, segundo a própria estudante, é a bagagem que está adquirindo. “Não é um estágio obrigatório. Escolhi fazer porque quero aprender, buscar novos conhecimentos, saber como funciona, participar das rotinas. O dinheiro não está em jogo agora”, conta. 
   Prestes a se formar, Ana Paula já decidiu que quer trabalhar na área clínica, atendendo pacientes. E por isso acredita que está no lugar certo para encarar o mercado de trabalho com mais segurança a partir do ano que vem. “Acho que essa (atitude) pode fazer toda a diferença no futuro. A partir do momento que entrei na clínica, conheci novos profissionais, fiz contatos no meio em que quero trabalhar, pude enxergar coisas na prática. Isso me fez crescer muito e me faz olhar a psicologia clinica de uma forma diferente. Vou me formar e não vou chegar numa clínica sem saber nada. Me faz mais preparada e segura”, destaca a estagiária.
   Analista em Recursos Humanos da Companhia de Estágios, Greta Munhoz diz que os dados refletem uma mudança de comportamento dos estagiários nos últimos anos. “Anteriormente, a gente percebia que eles buscavam o estágio como uma oportunidade de emprego da vida, e nesse quesito o salário era o ponto-chave para fazer a decisão. Nesse momento a gente percebe que o salário deixa de ser um ponto essencial da busca, e o entendimento do jovem está mais amplo. Ele entende que, mais que buscar um emprego, [o estágio] é a oportunidade de ampliar o conhecimento, treinar a capacidade e pôr na prática o que aprende na faculdade”, analisa. “É bem a questão de compreender que o estágio é uma porta de entrada para o mercado de trabalho para esses jovens. Para a maioria deles, seria a porta de entrada para um primeiro conhecimento do que eles aprendem na teoria", acrescenta a analista. 
   Ela diz que até as empresas compreendem melhor hoje a maneira como o estudante enxerga a oportunidade de realizar o treinamento, o que reforça a ideia do estagiário. “Em contrapartida, as empresas têm compreendido melhor que o estágio é um período em que ele [ estagiário] precisa experimentar, então pode ter um desconto, pode errar, ser tutoriado, e isso dá um ganho, deixa eles mais bem preparados.”
   Para esses jovens, a realização profissional está muito mais ligada a fazer algo relevante e inovador do que simplesmente trabalhar e receber um bom salário. A maioria deles afirmou que não mudaria de área mesmo se tivesse recursos suficientes, e 34,9% dos entrevistados topariam até mesmo ganhar menos, se o aprendizado fosse intenso e constante. “No futuro, a pessoa que fez essa escolha pode sair na frente”, reforça a analista do RH. 
   “Com o aprendizado, tenho uma perspectiva de futuro, e qe pode ser alcançada. Posso me formar e continuar trabalhando na clínica. O dinheiro a gente pode pensar como consequência. Depois de formada, se eu fizer um bom trabalho, vou ganhar dinheiro”, diz Ana Paula. 
   O que acontece com Ana Paula, por exemplo, que escolheu o estágio com o intuito de ganhar afinidade com a área da psicologia em que pretende atuar, a analista de RH explica que pode ser uma visão de futuro importante para os estudantes. “Entendendo a oportunidade, o estagiária visa já focar nas áreas em que acha que tem interesse ou inclinação. Vai buscar formas de entrar em empresas que combinem com seus valores. O pensar no futuro é muito presente”, aponta Greta. Por outro lado, de acordo com a pesquisa um universo de apenas 3,2% deles aponta a remuneração e o ganho de recursos para manutenção do curso/ faculdade como principal objetivo no programa de estágio. ( RAFAEL SOUZA – Reportagem Local, FOLHA EMPREGOS & CONCURSOS, segunda-feira, 16 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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