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terça-feira, 17 de maio de 2016

PRESIDENTE, PRESIDENTA OU PRESIDENTO


   Durante a última semana, com o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República e a consequente ascensão de Michel Temer ao cargo, muitas piadinhas inundaram as redes sociais, falando sobre a mudança da “presidenta” para o “presidento”. Um dos comentários mais compartilhados foi o de que o português correto voltaria a prevalecer, com o termo “presidenta” deixando de ser usado.
   Mas, afinal de contas (e deixando questões políticas de lado), será que o termo “presidenta” realmente estava errado?
   Por mais que isso desagrade a algumas pessoas, a verdade é que não. A palavra “presidente” pode perfeitamente ser usada para homens e mulheres. É um substantivo comum de dois gêneros, o que significa que basta usar um determinante, como um artigo, para determinar se é masculino ou feminino: “o presidente” ou “a presidente”. Isso é algo muito comum na nossa língua, em nomes terminados em “-nte” (gerente, estudante, pedinte, agente, etc.) ou, “ – ista” (jornalista, dentista, etc.) só para citar os mais comuns.
   Entretanto, há alguns casos em que a forma feminina, terminada em “a”, é possível e permitida pela norma culta, embora nem sempre seja usual. Podemos citar, como exemplo, a forma “parenta”, feminino de “parente”, que consta de qualquer dicionário, ainda que não a usemos com frequência. 
   Vale dizer que, quando esse fenômenos linguístico acontece, não há a obrigatoriedade de se usar essa ou aquela forma. É uma opção do falante escolher a que mais lhe agrada, como fez Dilma Rousseff . A justificativa para tal escolha foi, no caso, muito mais cultural do que gramatical, pois ela quis dar destaque para o fato de ser, pela primeira vez, uma mulher a assumir o cargo mais alto da nação. 
   Nosso idioma é, frequentemente, acusado de ser “machista”, já que, via de regra, há sempre o predomínio do gênero masculino sobre o feminino. Dessa forma, em uma sala de aula onde há homens e mulheres, o professor usará o plural masculino (“alunos”) e vice-versa: caso os alunos tenham professores e professoras, prevalecerá o primeiro termo. E assim por diante: pai e mãe juntos são “os pais”, filhos e filhas são “filhos”, etc. 
   Essa opção pelo masculino plural não é exclusividade do nosso português, já que também acontece em outras línguas latinas, como o italiano e o espanhol. Recentemente, como uma forma de fugir desse “machismo linguístico”, vem sendo proposta uma forma “neutra” de plural, com a letra “x” no da vogal indicadora do gênero. Assim, alunos e alunas juntos seriam “alunxs”, professores e professoras viram “professorxs” e assim por diante. É importante notar que, embora a iniciativa tenha por base a igualdade de gêneros, valorizando tanto o masculino quanto o feminino, a norma culta da língua não admite (ainda) tal variação. 
   Mas com a opção de Dilma, ao preferir “presidenta”, não é tão rara assim. É relativamente comum que uma mulher em cargo de chefia prefira se chamada de “chefa” em vez de “chefe”, a fim de valorizar o fato de estar em uma posição geralmente ocupada por homens.
   A língua é dinâmica e tende sempre a incorporar quaisquer inovações surgidas na oralidade. Sendo assim, é possível que outros termos femininos venham ainda a aparecer, como “gerenta”, por exemplo, que ainda não consta dos dicionários, mas, tem sido usado cada vez com mais frequência.
   Enfim, Dilma Rousseff pode ter cometido muitos deslizes linguísticos em seus discursos, mas o uso de “presidenta” definitivamente não foi um deles.
   Em tempo: “presidento” não existe. Foi apenas mais uma piada surgida no muito criativo mundo das redes sociais. 
   Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES, professor de Português e Espanhol. Encaminhe as suas dúvidas e sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, caderno FOLHA 2, espaço BEM DITO, terça-feira, 17 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

2 comentários:

  1. Presidenta não existe na lingua Portuguesa, por muito que inventem no Brasil.
    É bom não publicarem incorreções da nossa língua.

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  2. Argumentação rasa. Nesse sentido, só as mulheres podem criar mudanças na língua. A língua é social, portanto quem criou e aceitou presidenta, poderia aceitar também presidento. O que as mulheres estão fazendo é criar termos além do gênero neutro, é uma aberração.

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