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sábado, 14 de maio de 2016

PALAVRAS DE SAUDADE




   Desde criança sempre frequentei um asilo que ficava na rua da casa de minha avó, em Ibiporã. Lá, ajudava nas missas e em tudo mais que poderia. Tenho um apreço muito grande pelos idosos que vivem no lar, as Irmãs Servas da Caridade, que são as responsáveis por cuidar da instituição, e pelos funcionários, que têm em seu trabalho um ingrediente muito importante: o amor. 
   Em uma das visitas ao lar, aproveitei para fazer um trabalho da faculdade, que é de jornalismo, para gravar um documentário. O tema era os dois lados do amanhã e o intuito de comparar o que os idosos que vivem num asilo e jovens esperam de seu futuro. A reflexão era o objetivo final desse trabalho. 
   Durante as gravações, o depoimento de um vôzinho me tocou muito e fez com que a reflexão – que gostaria que causasse no final do documentário – se antecedesse para aquela fria manhã, na qual eu me perguntei diversas questões ao invés de indagá-lo. 
   Ele começou contando sobre sua juventude, que morava em outra cidade e trabalhava na lavoura, com sua família. Dessa época, lembrou de quantos momentos bons passou, mesmo com a labuta diária, com as grandes dificuldades de se morar em um sítio e com uma condição financeira desfavorável. Apesar da revelação parecer ruim na primeira impressão, via nos olhos dele a saudade que tentava me explicar por meio de suas palavras. 
   Além disso, o vôzinho, que hoje está em uma cadeira de rodas, com dificuldades para falar e dependente de terceiros para realizar atividades que para muito são consideradas normais, ainda falou como sobre como aquele tempo, em que colhia café no sítio, era bem melhor do que hoje, de como ele era livre. Era a simplicidade do campo que o encantava.
   Mas foi na última resposta dele que meus olhos ficaram marejados. Questionei-o sobre o que esperava do amanhã. A resposta veio após uma pequena pausa: “Futuro na situação que estou, em uma cadeira de rodas e muito velho, não tem futuro, né”. Suas poucas palavras resumiram a situação e seus sentimentos. Eu, ao ouvir, mais uma vez, muito além de frases ditas , escutei saudade. 
   O que gravei com ele juntei com os outros depoimentos e editei. A nota foi boa e o resultado também. Porém, o mais importante foi a mensagem de que devemos valorizar nossa vida independentemente dos problemas que temos e das tristezas que nos abatem. Vivemos em uma época em que tudo é mais fácil, mas mesmo assim conseguimos fazer tudo ficar mais difícil. ( FONTE: PEDRO MARCONI, estudante de jornalismo, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 14 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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