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segunda-feira, 9 de maio de 2016

O DESUMANO ATO DO DEPUTADO JAIR BOLSONARO


   Naquela histórica votação na Câmara dos Deputados pela admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff – ora em curso no senado Federal – ainda ressoa em minha mente as palavras do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que dedicou o seu voto ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe da unidade de tortura do DOI-CODI no período da ditadura militar, homem responsável pela tortura de centenas de pessoas, dentre elas a própria presidente. 
   O ilustre e nobre deputado carioca, paladino da moral e dos bons costumes, foi simplesmente desumano. Mostrou um desprezo total pelos direitos humanos e pelo ser humano em si. Votar e defender o impeachment da presidente Dilma por considerá-la culpada por crime de responsabilidade fiscal é legítimo e faz parte do regime democrático. Todos têm o direito de discordar do catastrófico governo de Dilma Rousseff e querer seu impedimento, mas um parlamentar dedicar o seu voto ao homem responsável pela tortura da presidente, evocando, certamente, os piores momentos de sua vida, é monstruoso, supera todos os limites do aceitável. É tratar o adversário político como inimigo que deve ser aniquilado, não só politicamente mas também psicologicamente.
   Para a nossa vergonha nacional, está corretíssima a reportagem do “The Guardian”. Na matéria da cobertura da votação do impeachment, o jornal inglês classificou o voto de Bolsonaro como o ponto mais baixo de uma noite em que os nossos parlamentares transformaram a Câmara dos Deputados num circo, do mais baixo nível, numa das votações mais importantes da nossa história, que merecia muito mais seriedade. 
   Citar Deus (será que caberia a citação de Deus num ambiente tomado por muitos acusados de corrupção?) ou a família, embora não sendo o ambiente e nem o momento apropriado, ainda vá lá, mas entoar loas à memória de um torturador é demais!
   Mas o pior é que Bolsonaro não está sozinho. Há milhares de pessoas que aplaudiram as suas palavras desumanas e monstruosas. Não esqueçamos que o ilustre deputado foi o mais votado na última eleição no estado do Rio de Janeiro, com 464 mil votos. E há também aqueles que, se não o aplaudem abertamente, procuram justificar a injustificável conduta do deputado, como fez o jornalista Alexandre Garcia, que, na rede social, lembrou que parlamentares do PCdoB dedicaram seus votos a integrantes da luta armada contra o regime militar, com a nítida intenção de diminuir o peso das palavras proferidas por Bolsonaro. 
   Claro está que quem entra numa guerrilha não é nenhum santo e está sujeito a praticar e a sofrer violência, mas nada se compara com a violência institucionalizada, patrocinada pelo Estado, representada pelo coronel Ustra. ( DONIZETH SANTOS, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e professor de Língua Portuguesa da Faculdade de Telêmaco Borba, página 2, ESPAÇO ABERTO, segunda-feira, 9 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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