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segunda-feira, 16 de maio de 2016

MINISTÉRIO DA FALTA DE ENXADA


   1- Pedro, 6 anos, pediu à avó um bloco de papel e lápis de cor. “Quero escrever um livro”, disse. Apontou a própria testa para dizer que já estava com todo o conteúdo da obra na cabeça. Será um livro de versos e desenhos dedicados à mamãe. Isso é cultura – e sem burocracia.
  2- Sempre achei que o grande problema entre educação e cultura é o “e”. Portanto, aplaudo a decisão de reunir as áreas numa só pasta. Se o retorno à sigla MEC significar economia de recursos e cortes de cargos comissionados, ótimo! Não considero a Lei Rouanet uma lei ruim – renúncia fiscal é melhor do que pagamento de imposto sem destinação específica -, mas existem distorções sérias e elas devem ser corrigidas. 
   3- Arte, beleza e sabedoria não precisam de ministério. Governo não escreve livro, não pinta quadro, não compõe sinfonia. Muitas vezes o governo representa – mas faz um teatro de péssima qualidade. Há também os momentos em que os políticos sapateiam (vide as viúvas do PT). Porém, nada disso é cultura; no máximo, é baixo entretenimento. 
   4- Eu só defenderia a continuidade do MinC caso o ministro escolhido por Temer fosse o Olavo de Carvalho. Se separássemos um só livro do filósofo radicado na Virgínia – como “O Imbecil Coletivo” ou “O Jardim das Aflições” -, Olavo já teria feito pela cultura brasileira do que todos os ministros da pasta, de 1985 para cá. Olavo está na origem de todo o movimento que levará ao fim do PT. Além disso, ele é o grande responsável pela quebra da hegemonia cultural da esquerda. O que as pessoas do Brasil inteiro falam hoje, Olavo já estava falando há 20 anos – e praticamente sozinho. É como se diz: #olavotemrazão.
   5- Dr. José Hosken de Novaes foi candidato à Prefeitura de Londrina nos anos 60. Homem urbano e educadíssimo, dono de uma grande biblioteca e leitor da Divina Comédia, Hosken se viu obrigado a percorrer todos os rincões do município. Certo dia, ele e o prefeito Milton de Menezes – seu compadre – faziam campanha na zona rural quando a fome bateu, e um cacho de bananas era o único alimento disponível. Hosken comeu uma banana e ficou segurando a casca. Depois de alguns minutos de hesitação, Hosken perguntou ao amigo: “Milton, não tem um cesto de lixo para eu jogar esta casca, não?” O homem era tão educado que não concebia jogar uma casca de banana no chão de terra. Isso é cultura. 
   6- Por falar em prefeito, Alexandre Kireeff se emocionou na palestra de Arnaldo Jabor.na semana passada. Quando Alexandre foi anunciado para dar boas-vindas ao palestrante, alguém da plateia gritou: “Fica, Kireeff!” O Teatro Marista lotado respondeu em uníssono: “Fica! Fica! Fica!
7- Aos que estão tristes com o fim o MinC, Michel Temer poderia criar uma nova pasta: Ministério da Falta de Enxada. (FONTE: AVENIDA PARANÁ, página 5, FOLHA GERAL, espaço AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet. Fale com o colunista:avenidaparana@folhadelondrina.com.br Foto: Shutterstock, segunda-feira,  16 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA)

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