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quarta-feira, 20 de abril de 2016

POR QUE NÃO SOU ISENTÃO




   Se você me perguntar qual é a principal razão do meu trabalho, responderei sem hesitar – O amor ao próximo. Tudo que escrevo tem como destinatário o homem comum, a pessoa que vive na verdade, o indivíduo que trabalha, ama e caminha sob o sol. Não escrevo para defender causas abstratas ou utopias do amanhã. Como diz o samba de Wilson Batista:: - Eu sou assim, quem quiser gosta de mim. 
   Nos últimos dias envolvido com os acontecimentos de Brasília, não pude comentar uma notícia que me abalou profundamente: o fechamento do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Universitário em Londrina. A fala do secretário municipal de Saúde, Gilberto Martin, resume o fato: “Antes do CTQ, as vítimas de queimaduras morriam no transporte para Curitiba”. Palavras duras, mas lúcidas. 
   Meus pensamentos se voltam para as vítimas – homens, mulheres e crianças – que perderão a vida porque o governo do Paraná não deu a atenção necessária ao CTQ, deixando-o sem funcionários. 
   Pessoas vão morrer. Assim como morrem as vítimas de acidentes nas estradas pedagiadas e não duplicadas. Assim como morreu o agente penitenciário Gesiel Araújo Palma, executado a tiros em Londrina. A saúde, a educação, a segurança e a infraestrutura do Paraná têm sido uma ópera de horrores neste segundo mandato de Beto Richa. Para não falar no escândalo da Receita Estadual, que vem de outros tempo, mas parece ter recebido um “upgrade” nos últimos anos.
   Escrevo para essa gente esquecida, anônima e sem voz. Escrevo para os queimados que vão morrer no caminho para Curitiba. 
   Escrevo para os motoristas que vão perder a vida numa ultrapassagem em pista simples.
   Escrevo para os agentes penitenciários, esses homens e mulheres que vivem presos e atormentados sem ter cometido crime algum, e dos quais raramente nos lembramos, embora eles sejam responsáveis por grande parte da nossa segurança. 
   Escrevo para policiais militares que têm de enfrentar bandidos – às vezes bandidos protegidos pelo governo federal e pelas organizações de direitos humanos – com poucas armas e nenhum amparo. 
   Escrevo para o empresário que sua para pagar todos os impostos e tem um concorrente que prefere burlar a lei e pagar propina. 
   Escrevo para aqueles que se calam nas redes sociais, porque não querem ser linchados virtualmente por militantes anônimos e destituídos de qualquer escrúpulo, e mentem como se a mentira fosse o o próprio oxigênio da vida. 
   Escrevo para os que perderam o emprego, as economias e o sono. 
   Escrevo para aqueles que não querem ser cuspidos, nem enganados, nem roubados. 
   Escrevo não apenas aqueles que sofrem queimaduras na pele – e que vão morrer no caminho para Curitiba -, mas para todos os que sofrem com a destruição do Paraná e do Brasil. 
   Por todos esses motivos, tenho orgulho de trabalhar em um jornal que tem as suas convicções e princípios, sem medo de desagradar grupos de poder e influência.
   Escrevo para os queimados, não para os que queimam. Não me peçam para ser isento! (Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br página 3, caderno FOLHA CIDADES, espaço colua AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, quarta-feira, 20 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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