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domingo, 10 de abril de 2016

OS DOIS LADOS DE UM PAÍS DIVIDIDO


   As sextas-feiras costumavam ser tranquilas em Brasília, com poucos parlamentares circulando pelo Congresso e o mesmo valia para a imprensa. Costumava ser. A sessão de discussão do relatório que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que durou 13 horas, terminando na madrugada de ontem, mostrou que o clima no Distrito Federal é tenso todos os dias da semana. Os deputados da situação criticam o chamado “prazo Eduardo Cunha” – para os inimigos políticos a velocidade do processo, para ele próprio e aliados a proteção dos prazos – enquanto a oposição defende que o País está parado, esperando uma solução para a crise política. Nesse ponto, os dois lados parecem ter razão. 
   Mas o fato é que a longa reunião da comissão especial de impeachment foi uma amostra do que ainda está por vir. Dos 116 deputados inscritos para discursar, 61 falaram. Trinta e nove deputados defenderam o parecer do relator, Jovanir Arantes (PTB-GO), que pede o prosseguimento do processo de impeachment da presidente. O parecer de Arantes, que se baseia principalmente nas “pedaladas fiscais”, será votado amanhã e os sinais apontam para a aprovação do relatório, pois a maioria dos 65 membros do colegiado já se manifestou favorável. 
   Embora a comissão apresente uma posição mais orquestrada, há muitas divergências entre os deputados federais sobre o impeachment de Dilma, como mostra reportagem de hoje da Folha de Londrina. E essa divergência retrata bem o momento político brasileiro, onde é cada um por si e nem entre os partidos há consenso. O PMBB do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e e do vice-presidente da República, Michel Temer é um bom exemplo. O partido já anunciou a saída do governo, mas muitos filiados permanecem no cargo e 30 deputados vão votar a favor da Dilma. O PP liberou seus integrantes para votarem como quiserem e o PR pode fazer o mesmo. O PSD sempre dividido. 
   A atual crise política deixa evidente a ausência de coerência dentro dos partidos, principalmente dos maiores. Os interesses individuais dos seus integrantes impedem que o eleitorado identifique a ideologia que eles defendem. Tanto que a lista da Odebrecht tornou explícito o fato que a maior parte dos partidos recebe recursos financeiros de uma mesma fonte. Faltaram ideologia e coerência e, tanto por parte da situação e da oposição, faltaram esforços para unir, em torno de um projeto de desenvolvimento, um país que se mostrou dividido nas últimas eleições presidenciais (Dilma foi reeleita por 51,64% dos votos). O Brasil estava dividido em Outubro de 2014 e continua cada vez mais dividido). (FOLHA OPINIÃO, opiniao@folhadelondrina.com.br página 2, domingo, 10 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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