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sábado, 30 de abril de 2016

O NOSSO CONGRESSO NACIONAL


   Foi patético e fétido o espetáculo proporcionado no último domingo no Congresso Nacional. Em nome de Deus, do cônjuge, da pátria, dos filhos (não necessariamente por esta ordem), homens e mulheres se emocionaram e tentaram fazer o mesmo com os eleitores, ao anunciar o voto sobre a aceitação da denúncia contra a Presidente da República. Um desfile já previsto, desde a prévia de 1992, mas sempre impactante. Quem disser, no entanto, que ficou incomodado ou se sentiu ultrajado como eleitor, pode estar sendo hipócrita. O níve desse nosso Congresso é baixo há décadas e todos sobejamente o sabemos. Os figurinos desse recurso legítimo e democrático chamado impeachment, refletem os eleitores brasileiros. Mas essa representação merece uma boa explicação!
   Uma grande parte do que eu chamo eleitores, não concordará comigo. E tem razão! Em primeiro lugar, porque não votou neles! Deu o voto a alguém que os convenceu pessoalmente, mas que lastimavelmente ajudou os que pomposamente gritaram e gesticularam. O nosso sistema político é além de injusto, muito esquisito e de difícil abordagem. O cidadão precisa de fato, fazer e refazer cálculos de alta dificuldade, antes de dar o seu voto a este ou aquele candidato. O sistema não tolera ingenuidades ou já terá sido feito para ludibriar os incautos! Ao escolhermos a dedo um bom candidato, corremos o risco de, apesar de bem votado, não o encontrarmos sendo aquele diferencial que gostaríamos, lá no Legislativo! Ao invés, vemos outros e outros que nunca conhecemos! O poder econômico usado intensa e explicitamente numa campanha, ao abrigo ou não da lei, vai ser o grande fator determinante para que o pobre eleitor não consiga se rever naquele espaço. Pais, filhos, cônjuges e até ex-cônjuges, se tornaram detentores históricos e tradicionais dessas cadeiras, numa dança macabra, que atinge o auge a cada pleito eleitoral e que em nada se distingue dis primeiros tempos da República! Existem sim os donos do poder! De pai para filho! Com o combustível de recursos financeiros e malandragem dos conchavos político-partidários. O pobre leitor tem razão em me contestar! Não se revê nesse Congresso!
   Precisamos mudar essa configuração me dirá o leitor. A reforma política é sem dúvida a mais desejada e a mais necessária. Mas ela não vai acontecer de imediato. Agora, já próximas eleições municipais e em 2018 para o Congresso Nacional, os brasileiros não podem titubear. O voto está num partido. O partido é o dono do seu voto. Se quer que alguém seja uma boa referência na Câmara Municipal ou no Congresso, precisa saber em que partido ele está e com quem está. Se o seu amigo, ótima pessoa, nesta fragilidade partidária brasileira, se abrigou numa legenda repleta de gente idêntica a que você viu domingo, seja sincero com ele! Não o prestigie dando-lhe o seu voto! Faça então os cálculos a que eu me referia acima. Os deputados que a nação brasileira viu ao vivo e em cores, são resquícios de uma era que terminou e só eles ainda não perceberam. Mas ainda usam regras antigas para nos enganar!
   A democracia, embora não seja perfeita, é sem dúvida o menos ruim dos modos de se exercer o poder em nome do povo. Já o afirmava Winston Churchill. Mas este povo, por sua vez, precisa urgente passar de mero espectador para agente de todo o processo. Isso se faz com educação , com exercício da cidadania em pequena e grande escala, começando no seu bairro, na sua escola, na sua empresa e atingindo o clímax no processo eleitoral propriamente dito. O voto facultativo considerado sonho de muitos brasileiros, pode ainda não ser o melhor nos tempos atuais. Para já, no aqui e agora da história, em que avançamos, mesmo se aparentemente retrocedemos, aprender a votar é tão sagrado quanto aprender a ler! ( MANUEL JOAQUIM DOS SANTOS, padre na Arquidiocese de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, sábado, 23 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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