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terça-feira, 12 de abril de 2016

O ESTADO LEIGO E A FÉ DO POVO


   No dia 30 /11/2012 a imprensa publica esta nota: “SÃO PAULO ‘ – A 7ª Vara da Justiça negou o pedido, feito pelo Ministério Público Federal , de retirar a frase: ‘Deus seja louvado’ do papel moeda nacional. 
   A decisão levou em consideração a alegação do Banco Central de que a retirada da expressão iria custar R$ 12 milhões aos cofres públicos e gerar intranquilidade na sociedade. 
   Na decisão, o Juiz entendeu que ‘não se aferiu a existência de oposição dos dizeres escritos nas cédulas no âmbito do seio social, [...] a alegação de afronta à liberdade religiosa não veio acompanhada de dados concretos, colhidos junto à sociedade, que denotassem um incômodo com a expressão ‘Deus’ no papel moeda”. 
   Seja pela economia, seja pela paz pública, o Todo-Poderoso continua louvado no papel. Ao menos no papel...
   Como pano de fundo, o vezo de cantar louvores ao Estado laico e, por tal motivação, iniciar tentativas de podar inclinações populares de fundo religioso. 
   Ora, nas recentes partidas da Copa América de futebol, a TV mostrou os atletas chilenas, perfilados e compenetrados, a cantar religiosamente o seu hino nacional. Se não estou enganado , eles estavam “rezando” estas palavras do poeta Eusébio Lillo:

   “Puro Chile, é teu céu azulado,
   Puras brisas te cruzam também 
   E teu campo de flores bordado 
   é a cópia feliz do Éden.
   Majestosa é a branca montanha 
   Que te deu por baluarte o Senhor,
   É esse mar que, tranquilo, te banha,
   Te promete um futuro esplendor.”

   Como se vê, a prece foi atendida, pois a seleção chilena foi campeã, derrotando até os argentinos, vice-campeões da última Copa do Mundo (aquele dos 7x1)... E ficou bem claro que o Estado chileno, sabidamente laico, não impede seus cidadãos de fazerem recurso aos poderes mais altos. 
   Outro dia foi a vez da seleção de vôlei da Sérvia, que também entoou, com alguns olhos marejados de lágrimas, o seu hino nacional – intitulado “Deus da Justiça” – com palavras escritas por Jovan Dondevic em 1872:

   “Deus justo,
   Tu que nos salvastes 
   da ruína até agora,
   Ouve as nossas vozes 
   E sê a nossa salvação,
   agora também.
   Com a Tua mão poderosa
   guia e protege 
   O barco do futuro da Sérvia. [...]
   Deus ajude e nos salve,
   Assim roga o povo sérvio.”

   Esta “oração nacional” tem seu valor acrescido quando se lembra que os sérvios viveram longos anos sob o tacão do Estado soviético, sabidamente ateu e inimigo de todo tipo de culto espiritual.
   Já que, nesta Terra de Santa Cruz, volta e meia surge algum herói incomodado com os toques dos sinos, a fumaça do incenso e as cruzes na parede, como se esses sinais da devoção popular abalassem os alicerces do Sistema. 
   O que me lembra uma cena familiar. Pai e filho viam a TV Câmara, que transmitia em tempo real uma sessão legislativa. Naquele dia, os ânimos estavam exaltados e nem mesmo alguns palavrões e insultos escaparam da censura. A criança comentou. 
   - Papai, que gente sem educação? Eles não respeitam nem o crucifixo na parede...
   O pai respondeu:
   - Ora, filho, Jesus Cristo não liga, não. Ele já está acostumado... Ele foi crucificado entre dois ladrões...] ( FONTE: PÁGINA 27, Atualidade: O pai respondeu )... , revista O LUTADOR, ABRIL 2016).

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