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sábado, 19 de março de 2016

O SÍTIO DO PAPAI



   Somos dez irmãos, Nascemos e moramos em Sertaneja nas décadas de 1950 e 1960. Meu pai tinha um sítio a três quilômetros da cidade, beirando o Rio Congohas, indo para Rancho Alegre. Estrada de terra: barro nos dias chuvosos e poeira no tempo seco. 
   Duas carreiras de altas paineiras formavam a entrada do nosso sítio, que começava na estrada e terminava na casa onde moravam minha avó e meus tios. A casa tinha um alpendre, como uma área, com alguns vãos de flores na parede e, ao redor, variedade de flores plantadas por minha avó e tias em canteiros não muito organizados, mas que formavam um bonito colorido. 
   No sítio tinha uma lavoura de café, pomar, plantava-se milho, algodão, mandioca e tudo que se precisava para sobreviver. Minha avó engordava porco, tinha sua hortinha e criava galinhas. Não havia energia elétrica, era lamparina e querosene. 
   De vez em quando, nós, os mais velhos, passávamos o final de semana lá. Era muito divertido. Na volta para a cidade, a vovó sabia os horários da “jardineira” e ficávamos na estrada do sítio, aguardando. Não me lembro, era criança, não sei se pagávamos passagem, mas a minha avó sempre dava galinhas e verduras para o motorista e ele nos deixava em frente a nossa casa, que era o caminho dele. 
   Quando era colheita de algodão, íamos “ajudar”. O Papai reservava para nós pés perto da casa, ao lado do terreirão de café. A hora mais gostosa era quando a vovó levava bolinho de chuva, bolo, pão e cafezinho “ralo e doce de vó” para nós, um verdadeiro piquenique. Eram dias inesquecíveis. 
   Mais tarde, o papai trouxe sua mãe e seus irmãos para a cidade e tudo mudou.
   De vez em quando, vamos a Sertaneja visitar os parentes e amigos e, por curiosidade, certo dia, voltamos lá no sítio. Só havia as palmeiras, ruínas do terreirão de café, nada da casa do nosso sítio. Tudo abandonado, sem vida, sem alegria e sem o colorido das flores da minha avó. ( IDIMÉIA DE CASTRO, leitora da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 19 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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