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quinta-feira, 3 de março de 2016

A QUEDA DE UM ANJO


   Ao fazer referência a um dos títulos mais sagazes do escritor Camilo Castelo Branco, talvez pressuponha incautamente que os leitores o conheçam. Mas não será necessário; a partir das características e da visão da personagem Calisto, o autor nos mostra a miséria moral e intelectual do panorama político de Lisboa do século 19, e sublinha o desastre ético alcançado por personagens que não estão preparados para exercer determinados cargos!
   Lula é o herói do inconsciente coletivo de uma fatia de brasileiros e está prestes a ficar pendurado na corda bamba de um passado intrigante, que fez de um migrante nordestino em São Paulo, um presidente da República. A história não o abandonou, mas Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para abandonar a história. Se Collor o fez por uma Elba ou Al Capone por um desacerto com a Receita, em terra tupiniquim poderá sê-lo por um apartamento com vistas para o mar. Ou quem sabe por um sítio em Atibaia; ou ainda por desdobramentos necessários do Petrolão! Lula está em maus lençóis. O Brasil não está divido em pró ou contra ele! O país quer a verdade dos fatos que estão na origem de índices de corrupção jamais alcançados. Homens como Helmut Kohl, pai da Alemanha moderna e responsável pela unificação também viram ruir suas biografias quando confrontados com nódoas incompatíveis com elas. Os cidadãos querem saber se aquele que foi chamado “o cara” e venceu duas vezes o pleito para conduzir os destinos do Brasil, não seria afinal nada mais do que um engodo, que aperfeiçoou e aprimorou um sistema iníquo de corrupção.
   Nenhum país fica órfão quando tombam as estátuas dos heróis que as não merecem mais ou se rasga o véu do palco, desnudando uma realidade intragável e insuportável. Nenhum beneficiário de programa social se sentirá abandonado, se lhe for revelado que qualquer mandante de plantão deve usar quando necessário, recursos públicos, para provisoriamente ajudar seu povo a vencer momentos difíceis. Os mitos se constroem no obscuro desconhecimento científico da própria realidade. Os salvadores da pátria e os heróis populares (e conhecemos a história brasileira) sempre chegaram nas carruagens de fogo da ausência de Estado, de educação e de esperança. Os mitos têm pernas de barro e a sua sustentação é tão frágil quanto o humor de quem os criou. O Brasil de 2002 não é o de hoje e poderíamos dizer sem exagero que a cada dez anos ou menos, surge uma geração desconhecida: uma gurizada que não conhece a origem da lenda e do mito! Que a questiona e a destrói. 
   O Lula da Silva da década de oitenta é um ilustre desconhecido para uma imensidão de jovens brasileiros. Já o Lula do triple e do sítio de Atibaia, não! Ora isso, é um excelente ingrediente para a quela do mito! O que está no meio desses dois pontos, chama-se história; aquela mesma que o fundador do PT está prestes a abandonar a se confirmarem todas as suspeitas. E assim, Luiz Inácio Lula da Silva não destonará das melodias executadas por muitos outros líderes mundiais, que terminaram seus dias longe do poder e do inebriante apoio das multidões.
   O Brasil está pronto para confrontar cidadãos por mais proeminentes que sejam, com fatos de prevaricação e usurpação de cargos públicos. A democracia brasileira, embora jovem, não só resistirá mas sairá mais fortalecida. Ninguém é culpado até que seja julgado. Mas um homem público tem que ser mais do que honesto! Tem que parecê-lo também! Quando perguntaram a CESAR porque repudiou a esposa depois de tê-la declaro inocente, ele respondeu que a mulher não deveria apenas ser honesta, mas passar ao público essa imagem: não era bom para ele que se espalhassem boatos pelas costas, mesmo que fossem mentiras! E o rumo das investigações da lava jato está incomodando cada vez mais o “homem mais honesto do mundo”! ( MANOEL JOAQUIM DOS SANTOS, padre na arquidiocese de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 3 de março de 2016. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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