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sábado, 12 de março de 2016

A CULTURA DO LIXO


   É interessante como geramos lixo. A sociedade de consumo hoje vem causando destruição na natureza como talvez a humanidade jamais tenha visto. Apareceu então a ideia de reciclar as coisas, o que não é novidade, mas os materiais que o homem produz atualmente demoram mais para se decompor e isso não dá velocidade suficiente à natureza para se recompor. 
   São objetos os mais diversos, para os mais diferentes usos. E a cada dia surgem mais necessidades. Descarta-se depois do uso e pronto. Parece simples. Usar e jogar fora.
   Lembro quando eu era criança e ia em sítios de parentes e via que nada se jogava fora. Tudo era aproveitado No sítio não tinha lixo. Tudo tinha seu lugar. Muitos alimentos que sobravam iam para o cocho de lavagem dos porcos. Os restos de madeira seca iam para o fogão a lenha e para o forno de assar pães. E assim por diante. 
   O povo mais antigo, umas duas gerações anteriores à nossa, não era de gastar muito. Economizava-se o quanto podia. Era um certo medo de que faltasse algo para o futuro. Coisa de quem já havia enfrentado guerras e escassez de alimentos e de outros itens essenciais. Para se ter uma ideia, lembro de que meu pai contava que quando  ele era criança, lá pelas décadas de 1930, meu avô comprava um par de sapatos e tinha que durar anos. Exagero ou não, dizia que quando o sapato estragava tinha até que amarrar com arame. Daquele jeito, gerar lixo era realmente trabalhoso. 
   As roupas, por exemplo, eram muito caras e comprava-se uma vez por ano depois da colheita. Na minha época de criança, como sou o “ex-caçula”, eu ia ficando com a roupa do meu irmão mais velho. É engraçado mas era o que acontecia muitas vezes. Era uma questão de cultura. Hoje vai-se ao shopping, compra-se num ano mais do que se comprava em uma década ou mais. 
   É claro que o mundo já não é mais o mesmo e as pessoas também não. As indústrias precisam fabricar, o comércio vender, as pessoas comprarem, os impostos serem pagos, o país ter verbas para infraestrutura e assim por diante. Mas a nova realidade exige uma nova postura em relação à natureza. 
   Respeitar a natureza não é somente não descartar lixo inadequadamente. Hoje, mais do que nunca, é necessário reutilizar e reaproveitar para não criarmos lixo que nos transmita doenças. A nossa saúde depende do que faremos daqui pra frente, e não é só uma questão de ser politicamente correto. Com a infestação do mosquito Aedes aegypti transmitindo várias doenças ao mesmo tempo, sabemos que a natureza está saturada. A natureza não está conseguindo decompor em tempo o que fabricamos. O mundo está operando no limite e o alerta está dado. É importante para todos nós, tanto na área urbana como na rural, ficarmos atentos em como descartar adequadamente para a sua reciclagem ou reutilização, a fim de que haja fôlego para a natureza recompor um pouco mais o meio ambiente, caso contrário, estaremos fazendo o papel de gafanhotos em uma plantação doente. ( FONTE: DAILTON MARTINS, leitor da FOLHA, página e, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 12 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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