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quarta-feira, 2 de março de 2016

A CRISE NA FORMAÇÃO DOS NOVOS MÉDICOS


   A fragilidade na formação dos egressos das escolas médicas no Estado de São Paulo e no Brasil urge das autoridades uma resposta imediata. Com a abertura indiscriminada de instituições de ensino médico pelo governo federal, descortina-se, se nada for feito, um futuro de pesadelo para a população brasileira. Nos próximo dez anos mais de 200 mil novos médicos estarão se graduando, e, se mantidas as condições atuais detectadas pelo exame do Cremesp, cerca de 50% desses profissionais terão capacitação inadequada, medíocre e atentadora à saúde da população.
   Esse cenário fica ainda mais preocupante quando se sabe que a maioria desses recém-formados não conseguiram entram em nenhum programa de residência médica, onde poderiam aprimorar seus conhecimentos. Alternativamente e legalmente, porque o sistema jurídico brasileiro com lei de 1957 assim o permite, estarão muito deles trabalhando em prontos-socorros, prontos atendimentos e hospitais, atendendo inclusive casos de emergências. Aqui o círculo vicioso se torna ainda mais dramático. Naqueles locais onde se exigem conhecimento e experiência, o sistema brasileiro de saúde, por falta de condições de trabalho e plano de carreira que atraiam os médicos mais qualificados, se vê compelido a contratar jovens médicos despreparados. 
   Lamentavelmente a parcela mais desfavorecida da população é quem mais se exporá aos equívocos diagnósticos e terapêuticos de quem saiu da faculdade de Medicina com um diploma, mas sem competência técnica e profissional.
   Neste sentido é que as denúncias de má prática médica aumentaram em mais de 320% nos últimos 15 anos e aquelas relacionadas à formação médica são mais de 70% no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. 
   No mundo civilizado não se admite que médicos com formação inadequada adentrem o mercado de trabalho. Nestes países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Portugal, além do diploma emitido pela instituição formadora, exige-se para obtenção da licença profissional que o médico seja submetido à avaliação por órgão externo e independente. 
   No Brasil algumas profissões já alcançaram este nível de exigência, O surpreendente é que as leis brasileiras que respaldam esse procedimento para advogados e contadores ainda não estenderam aos médicos essa medida de proteção aos pacientes. Ou será, parafraseando Maquiavel, que os legisladores brasileiros valorizam mais os bens das pessoas e menos suas vidas?
   Digno de destaque é que importantes setores da sociedade reconhecem a relevância do Exame Cremesp. A Secretaria Estadual de Saúde da cidade de São Paulo em seus concursos públicos exigem que o candidato médico tenha realizado nossa prova. A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) também já determinou que a participação na avaliação fizesse parte dos critérios para seleção da residência médica e contratação em mais de 80 instituições associadas. O sistema Unimed é outra instituição que também passou a utilizar o exame como uma das condições para admissão dos novos cooperados.
   É chegada, então, a hora do Congresso Nacional assumir seu papel e aprovar a obrigatoriedade de exame de proficiência para o exercício da medicina. ( BRÁULIO LUNO FILHO , presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), página 2, ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 2 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

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