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sábado, 20 de fevereiro de 2016

PROCURADO


   Desde que chegou, Tilápia sempre foi o xodó da casa da minha vó Leninha, em Ibiporã. E antes que você pense, por causa do nome, que ele era um peixe, já vou esclarecendo que Tilápia era o galo de estimação da família. Já grande, todo rajado nas cores vermelho, laranja e preto e com um esporão de assustar, ele era tratado com muito amor e carinho por todos. Desde o vizinho até as crianças que passam todos os dias pela calçada da casa de minha avó, já que ele mora em frente a uma creche. 
   Como minha avó já está com uma certa idade e não tem mais aquele vigor que a juventude carrega, ter um cachorro para cuidar da casa é uma ideia descartada. Segundo ela “dá muito trabalho e tem que ficar gastando muito dinheiro”. O que é verdade. Gato já tivemos alguns mas hoje não é uma boa opção para animal de estimação. Com essa “lista negra de bichos”, o galo Tilápia foi a solução. Apareceu do nada e do nada fomos acostumando com ele.
   Apesar de ser apenas um galo, Tilápia era muito importante para todos. Viveu conosco por cinco anos e nos últimos tempos teve que ter até cuidado especial. Por conta de uma doença, já não conseguia mais subir na madeira que era seu lugar de dormir. Pior que isso, ficou um bom tempo sem cantar. Voltando à sua “rotina” de cantar somente após alguns remédios naturais. Mesmo assim, já não era mais o galo de antigamente teve que adaptar seu dormitório a uma caixa de papelão em uma área que fica em frente a cozinha. 
   Lá, o galo de “estimação, que era atração da vizinhança, teve que se acostumar. Toda noite, vó Leninha arrumava seu cantinho colocando a caixa de papelão, forrando o chão com alguns jornais por conta da sujeira e colocando uma vasilha de água e outra de milho, para o caso de ele sentir fome. Assim se foram vários meses em todos os fins de tarde. Ao amanhecer, tudo era tirado e guardado. 
   Tudo ia bem até que um dia como todos minha avó foi recolher o dormitório de Tilápia e não o encontrou. A partir daí começou a busca por ele. Andamos por todo o terreno, perguntamos para os vizinhos e nada. Então, o galo que tinha nome de peixe, comia igual gente e mais parecia um cachorro sumiu. Até hoje não foi encontrado. Neste momento pode estar sendo cuidado em outro lugar, já ter virado sopa ou até mesmo nem isso mais. Ele pode ser mais um galo para muitos, mas para nós era um pouco da calmaria do campo nesta selva de pedra chamada cidade. ( PEDRO MARCONI, estudante de jornalismo em Londrina, página e, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 20 de fevereiro de 2016. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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