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sábado, 20 de fevereiro de 2016

COSTURANDO HISTÓRIAS



   Terapia artística, fonte alternativa de renda, nova profissão ... Conheça um pouco mais sobre o patchwork

   Um leigo que olhe para uma peça de patchwork pode até pensar que o trabalho se resume em juntar um monte de retalhos. Porém para quem conhece a técnica a fundo, cada desenho tem um significado, indo muito além de aproveitar restos de tecido. Aliás, cada pedacinho de pano é cuidadosamente escolhido, passando longe de ser apenas uma “sobra”. Atualmente, o mercado do patchwork movimenta milhares de dólares em todo o mundo, tendo feiras e materiais dedicados especialmente a essa arte. 
   “O patchwork se desenvolveu nos Estados Unidos. Na época da colonização as mulheres se reuniam nas casas umas das outras para tecer peças para o inverno rigoroso. Devido a escassez de material, elas usavam pedaços de tecidos para fazerem composições. A colcha era feita comum sanduíche de tecido e lã. No meio da peça eram feitas costuras, para que a lã não escorregasse. Como era complicado andar por aí com a peça toda, elas faziam pequenos blocos, que depois eram unidos”, conta a artista plástica e professora de patchwork Samar Kauss.
   Ela explica também que o que conhecemos por patchwork na verdade é o quilt, ou seja, formada por topo, recheio e forro. Também é chamado de quilt o ponto feito com linha para prender o recheio, sendo comum o termo “quiltar”. O topo da peça, confeccionado pela junção de vários tecidos, é que é chamado de patchwork.
   Ceramista por 30 anos, Samar diz que estava em busca de algo novo quando conheceu o patchwork. Na época, ela era responsável por pintar algumas das roupas das candidatas à rainha da Expo-Londrina e começou a estudar os desenhos formados no tecido para reproduzir nos trajes em couro. 
   Muitas pesquisas e viagens depois, a artista plástica começou a dar aulas de patchwork em uma loja, até montar seu próprio espaço. Completando 10 anos de casa própria, Samar é responsável não só por ensinar mas também por criar estampas para tecidos e réguas com desenhos especiais para recorte, além de lançar livros e revistas especializadas. 
   “Eu já fazia os projetos das peças, definindo tamanho dos quadros, desenhos e esquemas de cores e acha que as revistas que existiam na época não eram do meu gosto. Por isso, resolvi lançar a minha. Todo o material é criado por mim, dos textos às peças e a edição e impressão são feitas em Londrina”, destaca. 
   Com impressão digital e maior combinações de cores os tecidos estão em sua quarta coleção, sendo que a quinta já está no forno. O custo mais baixo do que os tecidos importados anima as artesãs, que precisam investir no material. 
   “Cada peça tem a sua combinação e, por mais tecidos que tenhamos, sempre achamos que um trabalho novo pede tecidos novos, o que acaba encarecendo um pouco a arte”, reconhece. Embora as peças possam ser feitas à mão como eram em sua origem – ou como no Japão, que preza por essa técnica até hoje – as máquinas de costuras são grandes aliadas das artesãs, sendo que muitas inclusive fazem o desenho do quilt (ponto) sozinhas.
   Isso possibilita que sejam criadas novas técnicas. “ Nos Estados Unidos a tendência agora é misturar o bordado feito à máquina com os recortes de tecido. Os brasileiros ainda estão criando a sua própria técnica. No Nordeste, por exemplo, devido ao calor, muitas das peças são feitas sem o recheio de manta acrílica”, explica. ( ÉRIKA GONÇALVES – Reportagem Local. Fotos: Fábio Alcover. 

   ‘MUITO MAIS DO QUE JUNTAR PANINHOS’

   Adepta dos trabalhos manuais e já craque em fazer o enxoval dos netos, há cerca de 10 anos, a professora aposentada Luiza Mariana Sodré Prado começou a fazer aulas de patchwork. Ela conta que esperava a chegada da quinta netinha, já gostava desta forma de arte e queria fazer um enxoval diferente. “Eu estava aposentada, já costurava e por isso resolvi aprender”, diz. 
   Mais quatro netos depois, Mariana começou a se dedicar a fazer panos de prato, usando a técnica de unir os tecidos. No início era para ela e as filhas. Mas depois começaram a chegar encomendas de parentes e amigos, que ficavam encantados com o trabalho. 
   “Um dia, uma das minhas filhas me propôs que começássemos a fazer os panos de prato para vender. Oferecemos em uma loja no Mercado Shangri-lá, a proprietária gostou e assim começamos. No início minha filha e até meu marido, que também é aposentado, me ajudavam. Ele era dentista e por isso leva jeito para trabalhos manuais. Um tempo depois ela foi trabalhar com o marido e ficamos meu marido e eu”, explica.
   Em Julho do ano passado Luiza Mariana descobriu um nódulo no seio, precisou ser operada e fazer quimioterapia. Na mesma época, perdeu a mãe, que residia com ela e era sua companheira de trabalho. Então ela decidiu parar com as aulas e os panos de prato. 
   ”Eu não tinha mais ânimo para nada. A quimio deixa a gente mal, além disso eu entrava no quarto de costura e me lembrava da minha mãe, que sempre estava ao meu lado, me vendo trabalhar. Mas os clientes começaram a me pedir pelos panos de prato, eu também sentia falta das colegas de aula e no final do ano voltei a costurar. Agora em fevereiro, quando retornaram às aulas, voltei para a escola. Estou fazendo apenas radioterapia, me sinto melhor e o patchwork é uma terapia. Nós rimos, conversamos, viramos uma família.”
   Outro motivo para ela voltar às aulas e sempre estar conhecendo as novidades. Luiz a Mariana, diz que o patchwork é uma arte dinâmica, com muitas ideias, mas que exige persistência. “Quando comecei, por já costurar, achei que ida chegar e fazer muitas peças. Mas minha professora é metódica, gosta de ensinar (as técnicas) do início. Minha dica é não desanimar, o patchwork é muito mais do que juntar paninhos”. ( E.G.). Foto: Marcos Zanuto.

   PRAZER PROFISSIONAL E TEMPO PARA A FAMÍLIA


   Psicóloga por formação, foi no patchwork que a professora Lânia Cristina Mozer Sebaio Vianna conseguiu conciliar o prazer profissional e o tempo livre para a família. 
   Antes de decidir por linhas e tecidos, Lânia havia trabalhado durante muitos anos em uma loja de roupas, como vendedora e depois como gerente, enquanto cursava a faculdade. Também trabalhou como psicóloga e abriu um quiosque onde vendia tapiocas. Foi quando conheceu o patchwork. “Eu sempre gostei de trabalhos manuais e na loja cheguei a bordar várias peças. Já tinha ouvido falar do patchwork, mas não sabia o que era. Fui estudar e alguns anos depois uma amiga me convidou para abrirmos uma loja. Porém, acabei optando apenas por dar aulas”, conta.
   Atualmente, Lânia faz peças para vender, atende encomendas e dá aulas, mas mesmo com tantos compromissos, se sente mais feliz agora. “Para mim o patchwork é algo que relaxa, a gente esquece do mundo. Por isso, os psicólogos recomendam os trabalhos manuais. Há quem consiga parar com os antidepressivos depois que começa a se dedicar a isso. Porém, no início é preciso persistência, porque é algo que precisa ser planejado, depois executado, sempre com calma e capricho, porque senão fica tudo torto e as peças não se , encaixam. As pessoas acabam aprendendo a ser mais pacientes e mais persistentes”, afirma. 
   Entre suas alunas, há quem queira aprender as técnicas para presentear, outro buscam também uma fonte de renda. “ Mas percebo que a maioria quer coisas mais práticas e rápidas. Trabalhamos sempre a partir do pedido de cada um, de forma que cada aluna faz sua peça. Com a técnica é possível fazer desde peças pequenas, como nécessaires, até bolsas, colchas, mantas, capas para caderno, panos de prato, jogos americanos. Pena que nem todos deem valor. Como é um trabalho demorado e precisamos comprar vários tecidos mesmo para uma peça pequena, não dá para cobrar muito barato”, justifica. ( E.G.). foto: Fábio Alcover. ( Páginas 16, 17,18 e 19, COMPORTAMENTO, FOLHA DA SEXTA, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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