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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A ESPERANÇA DAS PANELAS



   1 – Todo movimento histórico tem os seus símbolos, que nascem de maneira espontânea no coração das pessoas. A cruz talvez seja o mais perfeito exemplo: um instrumento de tortura e morte convertido em sinal de esperança para a humanidade. O mesmo símbolo às vezes é utilizado para o bem e para o mal: a estrela pode ser a do Natal e a do PT; o martelo pode ser o do meu avô (que guardo até hoje) e do comunismo (que rejeitei para sempre); o hino pode ser o Nacional ou o Internacional. 

   2 – Daqui a alguns anos, quando pensarmos no atual momento histórico do Brasil, um dos símbolos mais importantes será a panela. Todos nós temos panelas em casa. Pobre ou ricos, homens ou mulheres, crentes ou descrentes, jovens ou velhos, otimistas ou pessimistas, altos ou baixos, feios ou bonitos, famosos ou anônimos – qualquer ser humano tem uma panela para chamar de sua. 

   3 – O ser humano nasce, cresce e vive entre panelas. Elas nos acompanham do começo ao fim. Uma de minhas memórias mais remotas é brincar de bater panelas na cozinha, no apartamento da Alameda Barão de Limeira, em São Paulo, em plena ditadura militar. Desde que o homem é homem, a panela ajuda na sobrevivência da espécie. Abençoada seja a nossa panela de cada dia, símbolo do alimento, do trabalho, da esperança. 

 4 – Ela estava ali, ao alcance da mão, no armário da cozinha. Foi escolhida pelas pessoas para representar a insatisfação e a revolta contra o governo petista. Bater panelas é o protesto inicial: não custa nada, faz barulho, vira notícia e a gente nem precisa sair de casa. 

5 – Um querido amigo, professor de história que não é de esquerda, publicou no Facebook uma foto das filhinhas gêmeas batendo panela durante a fala de Lula na TV. “Um dia elas vã me agradecer por ter participado de um momento histórico”, escreveu ele. Muitos amigos e conhecidos de Londrina, entre eles meus sete leitores, publicaram vídeos sobre o panelaço, doravante a trilha sonora indispensável para os programas políticos do PT. Aqui em casa nós também batemos panelas com mito gosto, e com mais força ainda na hora em que Lula falou. Foi um protesto nacional: até o JN deu. E Londrina, mais uma vez, fez bonito. 

6 – No Brasil do PT, toda panela virou panela de pressão. Com as panelas pressionamos a Dilma o Lula, o Rui Falcão, o Supremo, o Cunha, o Beto Richa. Com as panelas pressionamos os que estão soltos para ser presos e os que estão presos para não ser soltos. Com as panelas pressionamos a oposição para sir de cima do muro. Com as panelas pressionamos as panelinhas dos omissos. Com as panelas preparamos o dia 13 de março e a nova Independência do Brasil.

7 – Então, não fique aí parado, oitavo leitor. Pá nela! ( Coluna AVENIDA PARANÁ – por PAULO BRIGUET, página 3, caderno FOLHA CIDADES, quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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