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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

LESÕES NO CORPOE NA ALMA



   Infelizmente é muito comum encontrar pessoas, principalmente adolescentes, que praticam automutilações. A prática ocorre quando o próprio sujeito perfura a pele com objetos cortantes, formando feridas dolorosas que se transformam em cicatrizes gritantes de um estado de mente que clama por ajuda. Mais frequentemente entre garotas – mas também presente nos garotos – a mutilação é um sintoma de que algo vai muito mal. 
   Realizar tal ato parece fugir da lógica racional. Algumas pessoas podem se perguntar: “Como assim alguém vai se machucar propositalmente”? A mente tem outra lógica para funcionar que independe do raciocínio. O inconsciente, pedra angular da psicanálise, tem enorme influência sobre como vivemos e o que fazemos da nossa vida. Viver sem se dar conta do próprio inconsciente é sempre ineficaz e leva a um estado de espírito precário e empobrecido. 
   Quem se automotila pode fazê-lo por diversas razões que, para cada um, são pessoais. Porém, podemos pensar que esse hábito tem a ver com uma mente que ainda não se formou. O problema de não ter uma mente formada é que não há recursos para lidar com as frustrações da vida. Em vez de as frustrações serem sentidas na mente e nela serem elaboradas e resolvidas, o sujeito transforma a dor emocional que sente em uma dor corporal. Falta mente para dar conta dos processos mentais de maneira mais eficiente. 
   A pessoa que se automotila envergonha-se de seus atos, encobre-se com roupas compridas e arranja justificativas para o que faz consigo mesmo. Ao se automotilar, procura alívio para o que sente dentro de si e que não consegue tolerar. Só que esse alívio é muito caro e não chega a ser um alívio de fato , já que causa muitos transtornos e vergonhas. 
   Essas pessoas precisam de ajuda profissional para que encontrem oportunidades de conseguir expressar suas dores e angústias de forma produtiva. Assim, poderão falar sobre o que sentem e achar meios eficientes de lidar com o sofrimento em vez de jogarem no corpo a terrível dor e angústia a que estão presas. A vida só se torna possível quando construímos uma mente. ( SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 7 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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