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sábado, 9 de janeiro de 2016

BOM PRINCÍPIO DE ANO NOVO



   Na minha infância era sempre assim na época das festas de final e início de ano: os avós e minha mãe deixavam balinhas e doces à mão e também serviam um dinheirinho.
   No primeiro dia do ano, algumas crianças passavam em frente à casa, batiam palmas e, quando a gente abria a porta, elas desejavam: “Bom princípio de Ano Novo”. E ganhavam os doces ou uns trocadinhos. Diziam que trazia sorte para a gente e, sendo verdade ou não, a sorte era sempre bem-vinda.
   Havia outra tradição engraçada que nossos pais e avós costumavam avisar: se a primeira pessoa que você avistar no início do ano for homem, você terá muita sorte. Se for mulher, terá azar. Apesar da discriminação e de ser uma bobagem, a meninada, principalmente, torcia para ver uma figura masculina e até fechava os olhos para não mulher. Depois trocavam as figurinhas. “Eu vi um homem”. “Eu não vi, será que vai ser um ano ruim?
   Meu avô gostava de uma pegadinha, à qual nós já estávamos acostumados, mas sempre ia bem para dar uma boa risada com ele. Chegava em casa com um ar grave e dizia: “O velho está morrendo. Dizem que não passa desta noite. Está no fim”. E a gente perguntava, fingindo admiração: “Nossa! Quem é? Ele estava doente?” Ele ria e falava: “ É o ano. É o ano que está acabando!”
   Festejávamos o ano bom com simplicidade, evitando comer carne de frango porque “ciscava “ e não ia para a frente. E também comíamos os grãozinhos de romã, fazendo os pedidos para o ano ter um bom princípio e um bom final.
   Bem menos festejado que o Natal, a festa de ano novo acontecia e eu sempre esperava uma grande mudança, uma virada radical. À meia-noite em ponto. Como a concluir um cíclo que estava passando. Ano novo, vida nova! Mas a vida continuava sem se importar muito com a data, as pessoas e as coisas eram as mesmas, a falta de novidade chegava a incomodar. Os mais velhos preocupados com as contas, com a colheita, com os filhos, com as dificuldades da vida, renovavam suas esperanças sem muita convicção: “Quem sabe este ano...” 
   As crianças logo entravam na rotina, ficavam pensando no novo ano escolar, na possibilidade de fazer algum passeio na casa de parentes, pois estávamos em época de férias. Então a gente usava a criatividade e inventava mil brincadeiras. Pescarias, jogos de bola, de betes e esconde-esconde, de cartas, nos dias chuvosos. E o novo ano nascia radiante, alegre, cheio de esperanças em dias melhores. Simplesmente como deve ser. Um feliz ano novo! ( ESTELA MARIA FERREIRA, leitora da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 9 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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