No ritual semanal da extração de pelos do rosto. Vejo aqueles que apenas eram extraídos do rosto, saindo pelas narinas. Busquei na lembrança e percebi que esta não era primeira vez. E na realidade a frequência que este fenômeno tem acontecido tem aumentado nos últimos meses. Tiro o foco do centro do meu rosto e vejo outros rebeldes saltando desgovernadamente pela minha orelha. Tive que interromper o crescimento. Peguei o pente, leia-se a mão, passei no cabelo e algo brilhou no espelho. Chego mais perto e alguns brancos estão reluzindo onde nunca estiveram. Seria um sinal de que algo está se pronunciando?
Eu que sempre achara que pelos saindo da relha e nariz eram coisas de “gente velha”, ou como prefiro dizer, de “gente mais experiente”. Cada fio branco é uma história. E nessa melodramatização, me sinto aquele guincho no filme “Carros”, onde cada amassado em sua lataria tem um significado para ele.
Olho ao meu lado minha mãe, onde os pretos em sua cabeça estão em área de proteção ambiental. Pois estão quase todos extintos. Brancos que por sinal lhe deixam mais bela. Igualmente na cabeça do meu pai. Em ambos, brancos de experiências e histórias felizes, tristes... mas histórias.
Olhando novamente brancos, penso estar na crise de 1/3 de idade. Crise já diagnosticada pela minha noiva. Uma crise causada por brancos e pretos, sejam na orelha ou do nariz. Eles que simbolizam a experiência da maioria das pessoas sobre a matéria vida. Algumas outras são só por genética mesmo. E querida genética, obrigado por não fazer com que eu perca os meus queridos fios brancos e pretos.
Enquanto aguardo a chegada dos meus trinta, vou extraindo os pelos que me lembram do inevitável. E os brancos vou contando enquanto eu não perco a conta. ( VINÍCIUS CARVALHO, analista de sistema e consultor em Londrina, página 3, FOLHA 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira, 9 de dezembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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