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domingo, 27 de dezembro de 2015

COLLOR E DILMA: A HISTÓRIA SE REPETE?



   O então presidente Fernando Collor de Melo foi acusado de improbidade administrativa, isto é, de amealhar 6,5 milhões de dólares de sobras ilegais de campanha e ainda de recursos advindos de tráfico de influência capitaneados por seu tesoureiro, PC Farias; hoje a presidente Dilma Rousseff é acusada de atentar contra a Lei Orçamentária, o que, segundo a Constituição, é considerado crime de responsabilidade; Collor mentiu na campanha eleitoral ao dizer que Lula confiscaria a poupança dos brasileiros e mentiu também ao afirmar que eliminaria a inflação e faria o País voltar a crescer; Dilma mentiu na campanha eleitoral ao dizer que caso Aécio (ou Marina Silva) vencessem a eleição haveria o risco da perda das conquistas sociais, além de prometer que não alteraria as regras da economia, mantendo o País na rota do crescimento. 
   A proposta do impechment de Collor foi protocolada por duas das mais importantes instituições da sociedade civil: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI); o pedido de impeachment de Dilma foi protocolado por três cidadãos, uma advogada e dois juristas , um deles fundador do PT e outro ex-ministro de PSDB; a defesa do impeachment de Collor teve apoio dos principais jornais do País, além das centrais sindicais, organizações da sociedade civil e emissoras de TV; a defesa do impeachment de Dilma foi criticada no editoriais dos principais jornais do País como uma manobra perigosa e golpista do presidente da Câmara.
   Collor não tinha sustentação partidária. O pedido de seu afastamento foi aprovado por 441 votos a favor e apenas 38 contra. Dilma tem, no parlamento, uma base de apoio formal (embora quase nunca fiel) de mais de 300 deputados e 60 senadores. No mesmo dia em que Cunha acatou o pedido de impeachment de Dilma, o governo aprovou medida de correção fiscal do Orçamento, com 314 votos favoráveis. Para evitar o seu afastamento, Dilma precisa de 172 votos ou 52% do grupo que hoje compõe sua base aliada. Collor não teve apoio da sociedade civil. Dilma tem apoio do seu partido, o PT, de vários partidos coligados (PC do B, PDT, além de vários membros do PSD, PROS, PP e PMDB), de boa parte da classe artística, sindicatos, estudantes e intelectuais. 
   Quem presidia a Câmara quando do impeachment de Collor era Ibsen Pinheiro, que seria cassado dois anos depois, envolvido no escândalo dos Anões do Orçamento e ficaria inelegível por oito anos; quem presidente a Câmara hoje é Eduardo Cunha, acusado de manter conta secreta na Suíça com milhões de dólares supostamente fruto de corrupção; quando Collor foi afastado em 1992, a inflação foi de 1.119%; a inflação de 2015 deve chegar próxima dos 10%; o salário mínimo em 1992 girava em torno de 80 dólares; hoje beira os 200 dólares. 
   Entre 1990 e 2013, a taxa de analfabetismo entre brasileiros entre dez e 18 anos caiu de 12,5% para 1,4%; a mortalidade infantil de crianças de até um ano caiu 24% no mesmo período; o número de pessoas entre cinco e 15 anos em atividade laboral caiu de 5,4 milhões para 1,3 milhão. Por outro lado, o índice de homicídios de adolescentes aumentou 110%, no mesmo período entre o impechment de Collor e a abertura do processo contra Dilma. A história não se repete? Não. Como podemos ver, a história apenas continua. ( DANIEL MEDEIROS, doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de história do Brasil no curso Positivo em Curitiba, página 2, ESPAÇO ABERTO, domingo, 27 de dezembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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