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sábado, 21 de novembro de 2015

SOBRE NÃO CONHECER OS VEGETAIS




  Recentemente, meus pais arranjaram um terreno com o intuito de reviver o passado. Lá eles plantam, regam, colhem, trabalham duro, tudo com muito amor e alegria. Eles nasceram, cresceram e se casaram no sítio para só então virem a ter os três filhos na cidade. Eu sou a mais nova deles e, não com orgulho, sou da geração que confunde salsinha com coentro facilmente. 
   Até então, meus problemas de confusão eram resolvidos por plaquinhas em supermercados, aquilo que eu penso ser couve está na prateleira de couve, então está resolvido, é isso mesmo. Seria de uma maldade imensa se alguém achasse engraçado trocar essas plaquinhas para me deixar ali, tentando entender o porquê de um repolho estar tão parecido com couve-flor. Nesses casos, a placa vence e levo coisa errada para casa. 
  Quando penso que estou ficando ágil no reconhecimento dos vegetais, penso em abandonar as plaquinhas tal qual uma criança abandona as rodinhas de apoio da bicicleta. Mas aí veio um final de semana para me dar um tapa na cara sobre o assunto. Fui visitar as plantas dos meus pais e me vi confundindo tudo: fruta com legume, legume com outro legume, verdura com fruta etc. 
    Encontrei uma planta rasteira, com um fruto verde, redondo e já soltei: “Olha lá, já tem uma melancia nascendo, que bonitinha!”, era abóbora moranga. De longe, apontaram para mim o lugar do feijão e eu confirmei a beleza que diziam ter, mas confesso que não tinha certeza sobre qual planta estavam falando. Depois que vi os raminhos, identifiquei, afinal, qual criança nunca plantou feijão na esola? 
   Outra vez elogiei a grama verde do vizinho: era trigo! Ainda bem que não foi para ele. Vou tentar me justificar com a distância que eu estava do local e também porque eu nunca tinha visto trigo plantado em espaço pequeno, até agora não entendi. Passando pela estrada, vi parreiras penduradas em um sítio, perguntei quando era época de uva para o meu pai, ele riu, porque aquilo era chuchu e dava o ano inteiro. 
  Tá aí m mundo que me faz passar muita vergonha. Essas visitam só revelam o quanto eu preciso aprender, o que já vem ocorrendo: Quem diria que casca de arroz faz bem para os morangos? E digo mais, o morango, assim como a alface, pode ser plantado em sistema hidropônico. Viram só? Estou explorando novas áreas e estou gostando, mas há muito que ver, pois, apesar de entender o sistema de produção de morango, sempre vai existir um pepino travestido de abobrinha para me pregar uma peça outra vez. ( LAIS TAINE, diagramadora na FOLHA, página 2, FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 21 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA)

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