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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

RESTABELECER O ANTIGO ISLÃ, A META DO EI




   A luta violenta do islamismo ortodoxo, conhecido como Estado Islâmico (EI) e com o qual não pactua a maioria dos islâmicos, é fundamentalmente religiosa e visa a preservação dos preceitos do Corão em sua forma que concebe como a original. Para isto, vale-se de todos os meios para exterminar os considerados infiéis e reimplantar o califado, que segue com absoluta fidelidade os passos do profeta e que estão consubstanciados na Sharia, o código de leis do Islã. É uma cruzada de fanáticos, estribada em profundo fervor religioso, e seus combatentes matam, mutilam, escravizam e morrem pelo que consideram uma causa divina. E também se apropriam de territórios, bens, armamentos e propriedades que conquistam, como as petrolíferas que lhes rendem fortunas. Com esse dinheiro – fala-se em mais de um milhão de dólares ao dia só com o petróleo – financiam a luta e recrutam simpatizantes, oriundos de vários países e no geral gente marginalizada.
   Esses militantes consideram que restabelecer o Islã tradicional e manter a fidelidade à lei islâmica é uma obrigação, e acreditam na “natureza sagrada” dessa missão. Não há, portanto, possibilidade de diálogo que reverta esse propósito, porque eles visam eliminar os apóstatas e acreditam que assim abreviam o fim dos tempos e se estabeleça uma nova ordem, à luz dos ensinamentos do Corão, o livro ditado a Maomé. Conforme declarou um de seus líderes,  o objetivo é redesenhar o mundo segundo a metodologia profética. Conforme essa crença, a luta armada – violenta como tem sido – não é uma brutalidade, mas um ato de misericórdia. O Estado Islâmico não delimita fronteiras, porque visa toda a humanidade, e não teme uma eventual intervenção externa, e diz-se que até a deseja, eis que assim seria reconhecido e isto lhe daria credibilidade. Seus inimigos não são propriamente nações, mas a legião dos renegados e as minorias religiosas.
   Interessante que adeptos do EI – muitos recrutados pela internet – acham que estão do lado do bem e que lutar pela causa é não só um dever, mas sentem prazer nisso, e maior mérito há quanto mais pesado o fardo Outros ganham dinheiro. “Allah é grande” é um dos brados dessa luta sinistra. Allah é o mesmo Deus de todas as religiões. Os muçulmanos que não concordam com esse extremismo, e mesmo os combatentes, louvam Maomé em primeiro lugar, e também Jesus. Os radicais do Ei parecem não se preocupar com o sofrimento de tanta gente em consequência dessa cruzada de extrema violência. Bashar Al-Assad, o ditador sírio (no poder há quatro décadas) de sua vez visa salvar o que resta da Síria e seu próprio reinado, e muitos entendem que sua eventual renúncia não aplacaria a progressão do Estado Islâmico e a fúria dos jihadistas, este um grupo aliado altamente treinado e disciplinado e adepto do combate violento.
   E por que matar inocentes em Parias? Por posições da França contra o EI e, supõe-se, ainda por causa dos deboches ao profeta feitos pelos cartunistas dp Charlie Hebdo. E porque desejam continuamente marcar presença, tornar-se visíveis e não demonstrar enfraquecimento. Seus porta-vozes afirmam que a França sofrerá mais atentados. Agentes externos envolvidos também tiram proveito (sobretudo econômico) desse conflito, que mais se expande e não tem perspectiva de terminar. Estrategistas afirmam que são grandes os riscos de uma escalada contra o Estado Islâmico, o que poderia gerar uma nova guerra, de grandes e incontroláveis proporções. ( WALMOR MACCARINI, jornalista em Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, sexta-feira, 20 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).   

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