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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

QUEREMOS CRIANÇAS REAIS



   Sete de junho de dois mil e seis.
   “Meu querido diário”
   Hoje a gente vai à casa da minha avó, é legal lá, a gente se  “diverte” muito!  Lá tem: Cachorro, comida e lazer. A gente pega pombinha. A avó é legal, além disso, tem espaço, rosas, macarrão, carne (hum!) deliciosa e churrasco. Tchau.”
   Essa foi minha definição de um bom dia aos oito anos. É engraçado: na parte em que listo o que aprecio, existem tantos familiares, lugares, quanto animais e comida – um pacote inteiro.
   Quando me lembro da época – e de outras anteriores – me parece que as lembranças são vividas e palpáveis, quase como se meus sentidos fossem mais aguçados  antigamente: gostos, cheiros e vozes podem me levar em viagens no tempo.
   Penso no que as crianças de hoje em dia vão levar consigo, de bagagem,  seja emocional ou moral. Aprendi muita coisa nesse meio, fora de casa: Na casa de meus parentes, na rua, nos parquinhos, na praça, em tudo isso reside uma lição ou uma memória.
   Penso nas crianças que ficam em casa, zumbis, com um celular na frente da cara. Embora expostas a esse vasto mundo, não acho que tirarão grandes conclusões.  Tente imaginar como uma delas, de oito anos, descreveria um bom dia. Incluiria todo o pacote? Já seria uma tacada de sorte se ela não escrevesse no Bloco de Notas do Iphone.
   Temo que em uns anos nenhuma criança terá boas memórias nem joelhos ralados. Temo que em uns anos a frase “brincar lá fora” desaparecerá. Que os carrinhos de rolemã sejam extintos. Que não existam mais crianças,, no sentido puro da palavra...
   Hoje em dia, os pais se esforçam para baixar no tablet os melhores jogos educativos. Mas educação mais efetiva que no mundo além do quarto e na verdadeira infância não há.
   Talvez seja mais uma coisa em prol do conforto e do controle – no sentido ruim da palavra: Crianças de verdade fazem bagunça. Atormentam vizinhos, sujam o chão da cozinha, caem, choram, gritam, correm, se sujam... Dá um trabalhão... Criança de apartamento é balela: Basta ligar a TV.
   Se for assim, confesso que quero filho saudosista.  ( AMANDA MARIA DAMASIO TEIXEIRA tem 17 anos e é estudante em Ibiporã, página 3, FOLHA 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira. 11 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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