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terça-feira, 24 de novembro de 2015

'ENQUANTO AS MULHERES ME AMAM, MUITOS HOMENS ME ODEIAM'


   CURITIBA – Quase dez anos após a promulgação da lei que leva o seu nome, a farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, de 70 anos, se diz realizada por contribuir para a mudança de mentalidade de muitas pessoas em relação ao machismo e à persistência da violência doméstica. Por outro lado, conta que precisou abrir mão de sua vida pessoal em razão da luta. A cearense conversou com a imprensa antes do início da I Jornada Nacional Viver Sem Violência, que começou ontem em Curitiba e segue até amanhã.
   “Realmente eu não posso ir ao supermercado, não posso ir ao shopping, porque o assédio é grande. Sei que enquanto as mulheres me amam, muitos homens me odeiam. Não posso também me expor porque é um cuidado muito grande que as pessoas da minha família e dos movimentos têm comigo. A gente não sabe o que passa na cabeça de um homem revoltado, que foi preso por uma lei que leva me nome”, afirmou.
   Apesar de enfatizar o aumento no número de denúncias por agressão, ela disse que a incidência de feminicídios, que são os assassinatos motivados por gênero, ainda preocupa. Em março de 2015, essa modalidade de homicídio passou a ser  considerada crime hediondo. Conforme o mapa da violência, publicado no início deste mês pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais, em 33 anos mais de 106 mil mulheres foram mortas no País. Os 4.762 óbitos registrados em 2013, último período analisado, representam uma média de 13 por dia e uma taxa de 4,8 para cada 100 mil habitantes.

   SENSIBILIZAÇÃO

   “Naquele  município onde existem políticas públicas, as mulheres estão acreditando nas instituições e denunciando mais. Agora, quando não existe, ela não tem onde procurar ajuda ou denuncia e nada acontece”, avaliou.  Segundo Maria da Penha, outra questão que deve ser trabalhada pelo poder público e pela sociedade em geral é a educação. “Educação é o que  leva a transformação de uma cultura”, lembrou.
   A Condenação, por parte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em 1998, foi motivada justamente pela biografia da farmacêutica. Em meio de 1983, ela levou um tiro nas costas de seu então marido, Marco Antonio Heredia Viveros, enquanto dormia, ficando paraplégica. O ex-companheiro por duas vezes foi julgado e condenado, mas saiu em liberdade devido a recursos impetrados por seus advogados de defesa. ( MARIANA FRANCO RAMOS – REPORTAGEM LOCAL, página 8 FOLHA GERAL,terça-feira. 24 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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