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domingo, 20 de setembro de 2015

SINFONIA DA PALAVRA DE DEUS




   Encontramos a Palavra na criação, no povo de Israel, nos profetas, nos acontecimentos da história, na Igreja, nas comunidades, nas escrituras, nos pregadores, mas especialmente no Verbo que se fez carne. A Palavra está no princípio, é motor que tudo move, é o DNA e a sinfonia de todas as coisas humanas e divinas. Ela é um céu infinito e um abismo insondável. É o livro de Deus e da humanidade, livro que foi escrito em mutirão. “O mal do mundo deriva de não se conhecer a verdade das Sagradas Escrituras” (Santa Tereza de Jesus). A Bíblia é a cartilha, a gramática, a enciclopédia que nos ajuda a ler a história humana e a história da salvação.
   Quando o cristianismo chegou ao Brasil tinha acontecido o cisma do Ocidente (Lutero). Os católicos foram sendo identificado com a missa e os protestantes com a Bíblia. Por séculos afora nós, católicos, vivemos num longo exílio longe da Palavra. Ela foi até proibida de se ler. O tesouro das Escrituras foi esquecido, escondido, desconhecido. O movimento bíblico pré-conciliar e o Concílio Vaticano 2º nos devolveram a Palavra. Fizemos grandes progressos, mas há ainda um longo caminho a percorrer.  Persiste  ainda muito desconhecimento e indiferença bíblica. Não basta o mês bíblico, precisamos de um “século bíblico” até que todo dia seja dia da Palavra. Já foi sugerida na CNBB uma “mobilização bíblica” em toda a Igreja do Brasil, mas a proposta não foi acatada. Nem temos uma Comissão Bíblica. É de lastimar.
   Jesus, a Palavra viva também abriu o livro , leu as Escrituras e nela encontrou a explicação de sua missão (Lc 4,18-20). Jesus cita frequentemente as Escrituras e nela se fundamentava quando dizia: “É preciso que se cumpram as Escrituras”. Ele abriu a mente dos discípulos de Emaus e aqueceu seus corações explicando-lhes as escrituras, começando por Moisés (Cf. Lc 24,32-45). Dizia ainda, a Escritura não pode ser anulada.  Errais  não conhecendo as escrituras. “Como é que  lês”?, perguntou ao doutor da lei (Lc 10,26). Insistia no valor das Escrituras ao afirmar: “As escrituras dão testemunho de mim”. ( Jo 5,39)  Admoestava seus ouvintes com essa pergunta: “Ainda não lestes as Escrituras”? (Mc 12,10). Todas estas admoestações de Jesus valem ainda hoje para nós.
   Tornemo-nos amigos, discípulos e praticantes da palavra. Ela é perfume de Cristo, bálsamo, alimento, tem sabor de mel, é mais preciosa que o ouro e a prata, mais luminosa que a luz, sete vezes mais brilhante que o sol . Ouvir a Palavra é ouvir declarações de amor. A era seca, a flor murcha, o mundo passa, mas a Palavra permanece. Vale a pena ser o Evangelho em obras e boas ações, pronunciar a palavra com a vida. Somos eco da Palavra e não de palavras. Quem é pessoa da Palavra torna-se  pessoa de palavra.
   O Sínodo da Palavra (2008) aconselhava: cada pessoa na família tenha sua Bíblia, os seminaristas adquiram paixão pela Bíblia, a catequese seja iluminada pela Palavra, os leitores nas celebrações saibam ler bem, o povo tenha acesso às escrituras. Enfim, não esqueçam os que a Palavra tem uma voz, é a revelação divina. Tem um rosto, é Jesus de Nazare. Tem uma casa, é a Igreja. Tem um caminho: a missão, os pés dos missionários evangelizadores. Sem a Palavra não se conhece o nome, a vida, a doutrina, o reino, as promessas e o mistério de Jesus de Nazaré. ( DOM ORLANDO BRANDES, arcebispo de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, publicação da FOLHA DE LONDRINA, sábado, 10 de setembro de 2015).

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