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terça-feira, 22 de setembro de 2015

GÍRIAS



   Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, mas é importante saber que as gírias também fazem parte da língua e, portanto, merecem ser estudadas como quaisquer outras palavras.
   Mas, antes de falar um pouco mais sobre as gírias, vamos fazer um pequeno esclarecimento com relação a dois outros termos de sentido bastante próximo, jargão e dialeto.
   Jargão é o nome dado à linguagem própria de uma profissão, como, por exemplo, palavras e expressões que são usadas e entendidas apenas por médicos ou advogados.  É claro, que alguém que não pertence a esses grupos  (ou não trabalha nessas áreas) pode perfeitamente aprender o significado do que é falado, mas provavelmente vai ter muita oportunidade de aprender de usar o que aprendeu. Podemos considerar como parte do jargão os termos técnicos usados naquela área  profissional específica, mas também expressões informais adotadas por esses profissionais. Nesse último sentido, não seria incorreto dizer que jargão é um  tipo de gíria profissional.
   Já o termo dialeto é usado principalmente para identificar uma variação da língua padrão utilizada em uma determinada região. Mas tome cuidado: não estamos falando aqui de sotaque, que é a maneira de pronunciar as palavras  e frases ( como o falar “cantado” do sul do Paraná ou R “caipira” que encontramos em Londrina e outros lugares). Um dialeto implica na utilização de utilização de vocabulário diferenciado e até mesmo de outra estrutura sintática (mudança na ordem das palavras em uma frase, por exemplo). Pensando assim, será que poderíamos chamar de dialeto o português falado em diferentes regiões do Brasil? Afinal de contas, na maior parte do nordeste chamam mandioca de macaxeira e usam “tu”  em vez de “você”. Bem, a  maioria dos gramáticos acham que isso é pouco para caracterizar um dialeto, pois a maior parte da estrutura da língua não muda tanto assim. O mais correto seria dizer que se trata de regionalismos, que são palavras próprias de uma determinada região. Vale para a macaxeira nordestina, mas também a vina curitibana ou a data (terreno) londrinense.
   E, finalmente, chegamos às gírias, que são termos surgidos em um determinado grupo social, sem ter necessariamente ligação com uma categoria profissional. Ou seja, as gírias podem surgir a partir de grupos como os adolescentes, estudantes, roqueiros, sakatistas, etc. Enquanto fica restrita àquele grupo, a gíria não tem muito alcance, mas, geralmente, o que ocorre é que seu uso acaba se espalhando, passando a ser entendida e usada por todas as pessoas.
   A partir daí, a gíria, que já passou a fazer parte da língua portuguesa, tem dois caminhos. Pode “cair de moda” e deixar de ser usada depois de algum tempo, como aconteceu, por exemplo, com as gírias da Jovem Guarda (garota era “broto” e coisa boa era “uma brasa”). Nesse caso, aliás, podemos falar em gíria ou “modismo”, ou seja, um termo que está na moda naquele momento, mas que logo depois não estará mais.
   Mas também pode ser que o uso de uma gíria se torne cada vez mais frequente e abrangente, atingindo toda a sociedade. Nesse caso, a palavra passa a aparecer em dicionários com aquele sentido “novo”, podendo, inclusive, vir a ser adotada pela linguagem mais formal. É mais ou menos o que aconteceu, por exemplo, com o adjetivo “legal”, que originalmente seria apenas para designar o que estava de acordo com a lei, mas passou a ser também sinônimo de coisa muito boa.
   Nesse último caso, é possível que, depois de algum tempo,  ninguém se lembre mais de que aquela palavra já foi uma gíria. Isso já aconteceu com “trem”, termo que era usado antigamente ( em Portugal ainda é ) para designar a bagagem de uma pessoa. Como se viajava muito de trem naquela época,  a palavra passou a nomear também o meio de transporte ( chamado de comboio em Portugal e outros países).
   E você, conhece alguma gíria curiosa? Consegue se lembrar das gírias que já usou quando era muito jovem? Mande para nosso e-mail. Até a próxima teça! (FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL) * Encaminhe suas dúvidas ou sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, FOLHA 2, terça-feira, 22 de setembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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