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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

AGORA SOU deus!


Ainda garoto, quando os sonhos e fantasias inocentes moram em nossa cabeça, ficava a imaginar as delícias de poder voar, ter super poderes, e se tornar invisível. Nossa! Pensava, quanta coisa eu poderia fazer. Bastava uma dificuldade qualquer para logo estar ali, travestido e executando o feito extraordinário com minhas super forças.
O tempo foi passando, e também com ele os sonhos de criança foram dando lugar ao jovem que saía da adolescência. Outros tempos, outras transformações trazidas pela natureza. Não mais as fantasias infantis e impossíveis, agora o mundo real clamava por ações também reais. A cobrança era diária e cada vez mais pesada, estudo e trabalho.
Um dia, na aula de redação na escola, não obstante o burburinho característico dos demais colegas, me vi isolado em meus pensamentos. Para quem de fora visse, eu estava fazendo o trabalho pedido pela professora, concentrado, discorrendo com a caneta sobre as folhas de caderno que se preenchiam céleres.
Sem que me desse conta, havia fugido do tema proposto pela professora e desenvolvia a história, fantasiosa, de uma família numerosa, que acabara de invadir uma propriedade agrícola. Não sei por que esse assunto ficou teimando em minha cabeça, talvez eu me sensibilizara com a notícia da noite anterior, quando vi pela televisão a polícia fazendo o seu trabalho, desocupando uma área invadida. 
Na história eu voltava aos tempos das fantasias, e lá estava eu, todo poderoso ajudando aquela gente. Ali, estava claro que eles tinham todo o direito de conquistar aquela fazenda. Que satisfação, ver mercenários debandando em retirada espantados e apavorados ante a minha força. Não nego a alegria sentida recebendo os aplausos de gratidão após a vitória. 
Só depois, quando o sinal da escola tocou e eu caí na minha realidade, que pude perceber, lendo a história acabada, eu o menino herói do passado só existiu ali naquelas páginas, porque com a caneta na mão, se quisermos, podemos fazer e criar tudo, aliás, muito parecido com deus, só que... ( JOSÉ ROBERTO BRUNASSI, advogado em Londrina, página 3, FOLHA 2, quarta-feira, 30 de setembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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