Páginas

sábado, 12 de setembro de 2015

491 PALAVRAS PARA DOBRA



   No dia 6, aqui nesse espaço, o professor da UEL Frederico Fernandes publicou um artigo ( 500 palavras para o Londrix) afirmando a vocação da cidade para sediar eventos culturais. Frederico rememorou a história dos antigos festivais gregos e enfatizou a importância ou o potencial econômico desses eventos para a Londrina de hoje.
   No dia seguinte no feriado de 7 de setembro, fui coma família a um desses eventos culturais lá no Museu Histórico.  Era uma feira de arte impressa batizada Dobra, que fez parte da programação do "III Ciclografias: imagina se pega no olho!”. Um evento organizado  pelo Grafatório, com o patrocínio do Promic.
   A minha filha Marina, 11 anos, saiu da Feira feliz com um poema que ela escolheu de um varal improvisado pelo escritor Felipe Pauluk – “ a palavra diz/ a escrita fala / o silêncio grita / o berro cala “. Patrícia Zanin, minha cúmplice, foi presenteada com uma gravura e mais um livreto artesanal, criação de umas moças que vieram de Curitiba e de Brusque. Eu saí da Feira com as mãos abanando, com o coração leve e a cabeça a mil.
   O que vi ali era um reunião de produtores independentes, herdeiros diretos ou indiretos da cultura punk, praticante do do it yoursekf .Não foi à toa que num dos debates programados para esse dia estavam Rogério Ivano,  zineiro anarco-punk, aqui em Londrina, nos anos 80, e Fábio Zimbres, um dos fundadores da revista Animal , onde resenhava zines de todo o país.
   Os produtores independentes, ou índies, como são chamados agora, criam, produzem e comercializam suas invenções, livros, revistas, gravuras, fotos e outros artefatos de papel impressos com paixão e arte. Havia 30 expositores na Dobra e muitos deles vieram de longe. Eles bancaram a viagem na esperança de que as vendas por aqui financiassem o retorno para a  casa.  Mas isso não parecia ser o mais importante.
   O essencial ali entre eles era a troca, o espanto, a conversa. Troca de experiências, conhecimento técnico e, é claro, de obras.  Flagrei o vai e vem de envelopes, revistas, livros, acompanhados por um sorriso e um valeu sincero. Havia entre os expositores uma curiosidade e abertura para o trabalho do outro. O visitante percebia esse clima, e também entrava no jogo aumentando a onda de curiosidade sobre objetos de papéis animados por uma ideia ou sentido. Algo bonito de se ver. O encontro, a vontade de saber o quê e como o outro cria.
   Penso que o jogo era esse. Mais próximo da inquietação do artista frente a algo diferente, do que com o cálculo do empresário avaliando o valor de uma mercadoria. Aliás, tenho dúvidas se esses operários da empresa “ As Própria Custas S/A movimentaram a economia da cidade. Mas vale lembrar as palavras do poeta: “O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade  in-útil.  Além  da  utilidade”. ( TONY HARA , é o autor do livro Oitenta Vezes Londrina, página’, espaço ponto de vista, sexta-feira, 11 de setembro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário