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terça-feira, 4 de agosto de 2015

SUBINDO PARA CIMA – O PLEONASMO



   Quando usamos a língua portuguesa, é freqüente a ocorrência de certos “efeitos” causado pela utilização de sons específicos ( como as rimas em poemas ou músicas), de palavras com sentido diferenciado ( dizer que o dia está um gelo, por exemplo) ou mesmo de idéias inusitadas (como o exagero em “já disse isso mil vezes”).
   Se esses efeitos foram propositais, pensados e criados para tornar seu texto mais expressivo, tudo bem, são as chamadas figuras de linguagem. A maioria delas, inclusive, é bem conhecida pelos estudantes, como a metáfora, a antítese a hipérbole, por exemplo. Aliás, se esse é um assunto que você não lembra, não se preocupe, voltaremos a tratar dele em breve.
   O grande problema é quando a má utilização da língua ( por desconhecimento de alguma regra ou por pura distração) acaba causando um efeito desagradável, negativo. Nesse caso, surgem os vícios de linguagem, que vão desde um simples erro de ortografia (chamado cacofonia) até a junção de idéias e palavras que podem tornar seu texto realmente complicado de entender.
   Dentre os diversos vícios de linguagem existentes, talvez o mais conhecido seja o pleonasmo,ou seja, a repetição de uma palavra ou expressão, conforme exemplificado no título da coluna de hoje ( afinal de contas, “subir”só pode ser para cima). Entretanto, é necessário primeiro fazer uma diferenciação, pois existem dois tipos de pleonasmo: o literário, em que um termo é repetido propositalmente, para efeitos poéticos   - como na canção de Chico Buarque: “me sorri um sorriso pontual”  - e o vicioso, como a repetição desnecessária de palavras, como no “subir para cima”. Então, só o segundo tipo é realmente um vício, um problema que deve ser evitado.
   Até aí você deve estar pensando que sabe muito de português, porque nunca comete esse erro, nunca fala “subir pra cima” ou “descer pra baixo”, não é? Será mesmo? Confira a seguir alguns exemplos de pleonasmos extremamente comuns, que acabamos falando ou escrevendo sem perceber:
   * “Vi com meus próprios olhos”  - Se viu, só pode ser com os olhos. E se são meus, são próprios.
   * “Duas metades iguais”  - Se não for igual, não é metade, é pedaço.
   * “Baseado em fatos reais (ou verídicos)  - Fato só pode ser real.
   * “Certeza absoluta”  - Se não é absoluta, então não é certeza.
   * “Todos são unânimes”  - Unanimidade só existe se forem todos.
   * “Comparecer pessoalmente”  - Não dá pra comparecer de outra forma.
   * “ Uma surpresa inesperada”  - Se você espera, não é surpresa.
   * “ Quando amanhece o dia “  - A noite não amanhece.
   * “ Uma novidade inédita”  - Existe novidade velha?
   * “Pessoa humana”  - Pessoa já é um ser humano.
   * “Conclusão final”  - Se não for final, não está concluindo.
   * “Vereador da cidade”  - Cargo que só existe na cidade.
   * “ Encarar de frente”  - O verbo encarar já dá a entender que é de cara, ou seja, de frente.
   Esses são apenas alguns exemplos de pleonasmos que cometemos no dia a dia, geralmente sem perceber. É possível, entretanto, utilizar essas construções quando há necessidade de ênfase ou para especificar algo como, por exemplo, em “Quando amanheceu o dia tão esperado”. De qualquer maneira, é só prestar atenção no que está dizendo ou escrevendo e, se for o caso, perguntar se é realmente necessário usar aquela palavra ou expressão. Em caso de dúvida, mande para nosso e-mail. Até a próxima terça. ( FLAVIANO LOPES  -  PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL, página 5, FOLHA 2,  espaço BEM DITO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 4 de agosto de 2015).

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