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domingo, 2 de agosto de 2015

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL




    Catarinense radicada em Londrina, Elaine Syridakis acaba de se tornar a primeira brasileira aprovada no curso de árbitro da União Ciclística Internacional na categoria estrada.

   O sobrenome é grego, o berço catarinense e o atual endereço é  londrinense. E agora Elaine Syridakis acaba de ganhar o mundo. Primeira brasileira aprovada no curso de árbitro da União Ciclística Internacional na categoria ciclismo de estrada, ela é comissária da Confederação Brasileira de Ciclismo  (CBC) há cerca de cinco anos, quando se mudou para Londrina.
   Nascida em Joinville  (SC), Elaine cursou História e Educação Física, mas não chegou a se formar em nenhuma das faculdades. A relação com o ciclismo veio da irmã mais velha, Kátia, também árbitra há mais de 20 anos. “Há  10 anos ela me convidou para acompanhá-la em uma prova”, conta. Por cinco anos,  Elaine atuou como comissária ( o equivalente ao árbitro no ciclismo) em Santa Catarina e também dava expediente em um banco.
   A convite da CBC, com sede em Londrina, ela se mudou para a cidade para atuar nacionalmente. Novamente, foi a irmã mais velha que incentivou  a mudança. “Ela disse ‘quero que tu vá’, daí pensei que se não desse  certo, pelo menos tentei”, lembra Elaine, que, a princípio, veio para trabalhar tanto na administração da Confederação quanto na arbitragem. Fluente em inglês, idioma que aprendeu de forma autodidata, Elaine foi direcionada para os cursos internacionais.
   “Foram dois na Suíça, onde fica a União Ciclística Internacional”, conta a comissária. Na primeira quinzena de julho, Elaine foi aprovada no curso de árbitra para ciclismo de estrada. Dos 30 inscritos, apenas 11 passaram para a segunda, sendo ela a única mulher. A conquista ficou ainda mais especial porque Elaine se tornou a primeira brasileira com tal credencial e a segunda na América Latina. “É um mundo muito masculino o do ciclismo!, aponta. Com a participação de candidatos de vários países, principalmente da Europa, o curso de árbitro internacional é sempre concorrido. “Porque não acontece todos os anos.  O último  foi em 2007, depois fizeram em 2013 e 2014 e a prova prática aconteceu este ano, na Áustria”, conta Elaine, que participou dos 10 dias do Tour da Áustria como parte da avaliação.
   “A prova é dividida em quatro fases. Tem o curso de sete dias, tem a prova escrita, que é bem extensa, e a prova oral, feita na Suíça, e a prova prática, onde eles pegam um evento do calendário mundial, geralmente um evento europeu, que tem um nível de ciclismo mais elevado.  E  aí eles colocam os árbitros nos carros junto com os avaliadores para fazer todas as funções dentro de uma prova”, detalha Elaine. “É você que toca a prova”, diz.
   “Eu julgava que a prova escrita, toda em inglês, seria a mais difícil, o pior. Tanto que dos 30 candidatos só 11 passaram.  Achei  que a prática seria mais fácil, por ser o que eu faço”, relata. “Mas quando você está numa situação de avaliação é mais complicado!, conta Elaine, que até se sentiu, como ela mesmo diz, “um pouco acuada no primeiro dia”. “Eram cinco homens e eu, mulher e de um país sem tradição em ciclismo, devem ter me achado a coitada”, diverte-se. “Mas depois pensei, vou fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. E fui conquistando os colegas!.
   Ao final dos 10 dias da volta austríaca, Elaine mostrou seu valor e foi aprovada. Do seu grupo, dois não passaram. “Dividiram os 11 em dois grupos e me colocaram no primeiro por causa das Olimpíadas do ano que vem, no Rio de Janeiro”, explica.

   “Por que eu escolhi  a estrada? Porque é com certeza o mais bonito”, avisa. “Sempre assisti em casa a Tour de France, as grandes voltas. Você não tem ideia  como é trabalhar numa grande volta", explica. Mesmo com toda a paixão, Elaine até pensou em fazer um curso para comissária internacional de outra categoria, a de mountain bike. “Eu disse que queria fazer, mas nosso presidente e diretor técnico disseram não. Na época fiquei chateada, mas depois conversando, eles disseram que eu tinha o perfil para a estrada, então vamos aguardar. Acreditei  e confiei”, lembra.
   “Aqui no Brasil a gente tem voltas de cinco dias, mas em geral são 10 dias”, explica. “Os ciclistas pedalam em média 150 a 200 quilômetros por dia, mas para o árbitro também é pesado, ficamos no carro entre quatro e cinco horas acordando cedo e dormindo tarde”, conta. “E tem que conhecer muito o regulamento, que está sempre mudando, evoluindo”.
   Segundo Elaine, a UCI está renovando os quadros de comissários, que precisam se aposentar quando chega aos 70 anos. “Então eu tenho mais de 40 anos de carreira pela frente”, planeja. “E logo no começo desta carreira, estou recém-aprovada, já vou trabalhar nos Jogos Olímpicos. É um grande marco.  Os  instrutores do curso costumam dizer que ser apontado para Jogos Olímpicos, assim como para o Tour de France, o Giro Itália e a volta da Espanha, que são as maiores voltas, é coisa de uma vez na vida”, relata.
   “Pretendo retribuir o investimento que a Confederação fez em mim. E trabalhar para o crescimento do ciclismo  no Brasil. Estamos no caminho, estou bem contente com os resultados que estamos tendo”, avisa Elaine. ( KARLA MATIDA – REPORTAGEM LOCAL, página 1, caderno FOLHA GENTE, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 2 de agosto de 2015).   

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