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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

ESTUDO PROPÕE CARNE LIVRE DE ANTIBIÓTICOS

   


   Pesquisa realizada pela UEL avalia a influência de medicamentos na produção de aves, suínos e bovinos e as  conseqüências   na alimentação humana

   A comercialização de carnes livre de antibióticos com valor agregado em supermercados é uma proposta apresentada pela pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Realizado em parceria com a Universidade de Guelph, no Canadá, o estudo analisa desde o ano passado a influência dos antibióticos na produção de aves, suínos e bovinos e as consequências  na alimentação humana. Na universidade canadense é que é feito o sequenciamento  genético das bactérias das amostras coletadas nos animais na região de Londrina.
   Formado em medicina veterinária pela UEL,o pesquisador Márcio Costa fez doutorado no Canadá e retornou ao Brasil pelo programa federal Jovens Talentos para dar continuidade ao trabalho iniciado na América do Norte. Assim como no Canadá, esse estudo também é pioneiro no Brasil e usa o sequenciamento  genético, que ainda é muito caro no nosso País, para análise dos efeitos dos antibióticos e das bactérias, que são mais importantes do que acreditávamos antes do acesso a essa nova tecnologia. Para  cada célula, há 10 bactérias no corpo humano”, explica.
   Costa lembra que os antibióticos, alvo da pesquisa, são responsáveis por uma revolução na área da saúde devido ao tratamento das infecções, mas faz a ressalva de que o uso excessivo pode desenvolver bactérias resistentes e alterar a microbiota dos animais, mais conhecida como flora intestinal. “Do lado positivo,  as bactérias são essenciais para defesa e mudanças podem estar relacionadas a problemas como obesidade, diabetes e alergias. “ Atualmente, 70% dos antibióticos são voltados para animais, entre eles, bovinos, suínos e aves”, acrescenta.

   OBESIDADE

   Na fazenda da UEL, grupos de porcos e frangos são tratados com antibióticos, enquanto outra parte dos animais permanece sem o medicamento. O mesmo ocorre com o gado que fica em uma fazenda na região de Londrina. Após a coleta das amostras dos dois grupos, o material é levado para a universidade no Canadá.
   O pesquisador esclarece que ao contrário do que acontece com os hormônios, os antibióticos são permitidos para controle da produção e também para o ganho de peso antes do abate com bactérias mais eficazes na extração da energia durante a alimentação dos animais. “ Estudos avaliam a presença de antibiótico na carne consumida por conta do uso na produção e os possíveis efeitos colaterais. Além disso, existe uma teoria que relaciona o aumento da obesidade na população a partir da década de 1940, quando o antibiótico passou a ser utilizado nos animais para corte”, aponta.
   Costa sugere a entrada de carne no mercado sem a presença de antibióticos, o que já ocorre no Canadá,  nos Estados Unidos e em países europeus. “Não há essa opção no Brasil e existe uma demanda no País por uma alimentação mais saudável. Sem antibióticos, a produção pode cair de 5%  a 10%, mas é possível agregar valor ao produto com um preço mais alto, além do marketing. Os produtos convencionais podem dividir espaço com as carnes livres de antibióticos”, analisa. Ele ainda acredita  que a “pressão” por esse tipo de produto deve aumentar no Brasil nos  próximos anos, pois leis que proíbem o uso de antibióticos nos animais já são discutidas pela União Européia e Estados Unidos.

   INFECÇÃO HOSPITALAR

   Outra possibilidade investigada pela equipe é se existe relação entre o uso de antibióticos nos animais e as infecções hospitalares provocadas pelas bactérias multirresistentes aos medicamentos. “ Os animais defecam no meio ambiente e a maioria das bactérias se encontra no intestino. Estamos investigando se isto pode contaminar as áreas de produção agrícolas e pessoas e se esse processo influencia o fator multirresistente das bactérias em hospitais, o que provoca cerca de 700 mil mortes em todo o mundo, segundo a OMS, (Organização Mundial da Saúde)”, adianta. A FOLHA  procurou o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal ( Sindan) para comentar o uso de antibióticos em aves, gados e suínos, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

   ‘USO DE REMÉDIO DEVE OBEDECER O PRAZO DE CARÊNCIA’


   Presidente do Conselho Técnico da Sociedade Rural do Paraná (SRP), o veterinário Célio Arantes Heim explica que o uso dos antibióticos em aves e porcos é preventivo par evitar infecções corriqueiras devido à aglomeração dos animais. O ciclo de produção das aves leva em torno de 45 dias e nos suínos varia de cinco a seis meses. “Nos aviários, os antibióticos são colocados na ração e podem estar presentes na água, mas as vacinas são mais utilizadas na prevenção do que os próprios antibióticos” , comenta.  Segundo ele, o uso de medicamentos contra infecção é menor na produção de bovinos,  que podem ser tratados de maneira individual nos pastos. Questionado sobre o ganho de peso, Heim  responde que o antibiótico colabora indiretamente pois evita que o animal fique doente,
   O veterinário ainda lembra que a utilização de remédios deve obedecer ao “prazo de carência”, que leva em consideração o tempo que cada substância permanece na carne. “ Os produtos são rastreados para indicar a procedência. Qualquer sinal de medicamento detectado na carne pode suspender as negociações, além de outras penalidades, principalmente quando invade o mercado internacional”, esclarece. “A retirada de leite das vacas também deve obedecer o prazo de carência conforme os antibióticos de curta ou longa duração”, acrescenta. ( R.F). ( RAFAEL FANTIN – Reportagem local, página 6, FOLHA  Geral geral@folhadelondrina.com.br  publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 11 de agosto de  2015).

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