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domingo, 16 de agosto de 2015

ATÉ, BRAVO!

   


   Não viemos apenas do macaco, mas também dos peixes, que vieram das bactérias – é o que informa o livro A História de Quando Éramos Peixes, de Neil Shubin. Ele relata análises comparativas de fósseis de peixes, mamíferos e aves, evidenciando que suas - ou nossas – origens são comuns.
   Parece lógico, se já sabíamos que a vida começou no planeta com as bactérias. Nossa mãe ancestral foi microscópica.
   Eu estava pensando nisso quando Bravo,  nosso cachorrão, entrou no escritório de Dalva, onde ele nunca entra (pois fica o tempo todo no meu escritório), e deitou. Ela mandou sair e ele, sempre tão obediente, não saiu, olhou triste, continuou ali, pousando a cabeça, olhando longe, respiração opressa.
Então  entendemos: estava se despedido. Para ver que estava saindo de vez da rotina, iniciava um silencioso ritual de adeus. Só saiu do escritório à noitinha, para deitar no meio da chácara, como nunca fez.
   Tudo que escrevi nos últimos vinte anos, foi com ele deitado diante da escrivaninha . Então escrevi:
   Quando você quis morrer, não se entocou. Foi para o meio do quintal. Deitou, olhando de soslaio as estrelas, esperando calmamente o final.
   Não creio que tudo tenha sentido, inclusive a Eternidade e o Infinito, nem creio noutra vida além de tantas já, da bactéria ao peixe e ao macaco que gerou o astronauta. Mas ver você partindo tão em paz é tão bonito, meu irmão, que dá vontade de crer na Criação e  na Reencarnação!
   Então, se  é para crer noutra vida, até!  Nos  veremos em nossa chácara renascida, de novo cercado de tantas plantas floridas que já dá até saudade de você, meu Bravo, enquanto te vejo morrer.
   E você se vai finalmente:  primeira vez te passo a mão e você não abana o seu rabão.  Sim, companheiro,  quero crer noutra vida, para te rever.
   Vamos brincar num gramado infinito, vamos beber de riachos límpidos mas, por enquanto, fique com isto, estas pequenas gotas chamadas lágrimas enquanto cavo tua última toca.
   E ergo teu corpo com o coração na boca, e no chão das lembranças te deposito, para repousar inesquecivelmente enquanto me esperas, meu amigo querido. ( Crônica do escritor Domingos Pellegrini, página 19, cultura, espaço DOMINGOS  
PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicação do JORNAL DE LONDRINA,  domingo, 16 de agosto de 2015).

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