Páginas

sábado, 11 de julho de 2015

NOSSA VIAGEM A APARECIDA





   Quando pequeno, moramos no sítio e tínhamos de ajudar nossos  pais nos afazeres diários. Pela manhã colocar água nos cochos dos animais, tratar dos porcos, debulhar  milho para as galinhas e ajudar nossa mãe na casa. Aos domingos, após nosso trabalho, por volta das nove horas meu pai nos reunia na sala e ligava o velho rádio de pilha, na missa da Aparecida do Norte.
   Certa vez, nosso irmão caçula, o Maurinho, após a missa, falou para nosso pai que seu sonho era um dia ir até cidade de Aparecida. Nosso pai olhou para ele, o puxou junto aos seus braços num abraço e disse: se esse ano a colheita de café for boa vamos realizar seu sonho. Vamos viajar e assistir a missa lá. Quanta alegria. A euforia tomou conta de nós. Dissemos a ele que iríamos ajudá-lo muito na colheita.
   Estudávamos em uma escola rural que tinha um calendário diferente das escolas da cidade pois tínhamos três meses de férias no meio do ano: o ano letivo começava no meio de agosto e terminava no mês de maio. Isso era para que todos ajudassem na colheita de café. Vale dizer que naquela época não tinha esse Estatuto da Criança e mesmo assim éramos felizes. Lembro da nossa professora, uma moça bonita da cidade, Dona Ica, que era uma verdadeira heroína, pois dava aula no mesmo período para as quatro séries do primário.
   Acabado a colheita com uma boa safra, chegou a hora de nossa partida rumo a Aparecida. Nosso pai perguntou para a mãe se ela conseguia nos levar na viagem, pois o sítio não poderia ficar sem ninguém. Nossa mãe, uma verdadeira guerreira italiana, embora analfabeta, aceitou a missão. O pai nos levou até a estação do tem em Cambé e partimos.
   Tudo era novidade.  Partimos à tarde, viajamos a noite toda, chegando em São Paulo, na estação da Luz, no outro dia cedo. São Paulo, que loucura para nós. Pegamos um táxi rumo à rodoviária, encantados com os edifícios, bondes, viadutos, muita gente, muitos carros.
   Seguimos de ônibus até Aparecida. Que encanto. Assistimos missas, andávamos o dia todo, subindo as ladeiras, entrando em todas as lojinhas para comprar lembrancinhas. Conhecemos e andamos na roda  gigante, no  carrossel.  Ah, as pipocas coloridas que nunca tínhamos visto. Conhecemos uma fruta que se chama pêra. Que delícia! Quando vimos pela primeira vez uma televisão, que fascínio. E o hotel que pela  primeira vez nós  nos hospedamos.
   Após cinco dias, chegou o dia da volta, mas tudo era só alegria. As coisas eram muito simples naquela época. Mas de uma grande felicidade. Essa viagem marcou toda nossa vida. Anos depois voltei a Aparecida, mas não foi igual a primeira vez. Hoje sinto saudade dos meus pais e de meu querido irmão Álvaro, que já se foram. Só resta o Maurinho , hoje avô, e eu. ( Texto escrito por SIDNEY GIROTTO,, leitor da FOLHA, página 2, espaço
DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 11 de julho de 2015).

Nenhum comentário:

Postar um comentário