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terça-feira, 14 de julho de 2015

AS DIFERENÇAS



   Ser VIP já foi bom; AGORA NÃO É  grande coisa, e sabe por quê? Porque todo mundo é vip . Quem foi coadjuvante de novela, apareceu no Big Brother, está quase contratado por um clube de futebol – de preferência acompanhado de um escândalo sexual – ou aparece nas revistas de fofoca  é vip, e estamos conversados.
   Ser vip não era para qualquer um. Esta casta – pouco numerosa – tinha direitos que só existiam para ela. Para um vip, quando chegava a um restaurante, sempre havia uma mesa, mesmo no Dia das Mães. No Carnaval, só circulava por camarotes refrigerados, tomando champanhe, enquanto os normais morriam de calor, bebendo cerveja quente. Para o que pertenciam ao seleto grupo, quando decidiam viajar para o exterior, sempre existia lugar nos aviões para o mesmo dia, e eram até convidados a ir na primeira classe. Jamais ficavam na fila de uma discoteca – entravam direto – e, nos grandes shows, eram sempre chamados a sentar na melhor mesa, com comida e bebida de graça.
   Mas, afinal, o que faz uma pessoa ser vip? Hoje, para pertencer a essa turma, basta ser celebridade, e não pense que a vida dela é fácil. Se uma grande festa vai acontecer na cidade, começa o stress.  Será que vai receber convite?  Se  recebeu,  que roupa vai usar? Na festa, será que vai arrasar? Será que vai ser fotografada? E, se for, será que a foto vai ser publicada? E se não estiver boa? E para o camarote da escola de samba, será que vão  chamá-la? E o curralzinho vip para ver o show? Convenhamos: é dura a vida de uma celebridade.
   Há, porém, uma grande diferença entre ser famoso e ter prestígio. Existem aquelas pessoas que são as duas coisas, mas são poucas. E essas fogem dos lugares onde podem encontrar as celebridades. Aliás, quem tem prestígio dificilmente é visto em público e não aceita convite para nenhum acontecimento patrocinado por marca comercial. Já as celebridades  ( ou candidatas a) vão para todos os eventos – e, se forem mesmo muito famosas, até ganham cachê, com hora marcada para chegar e ir embora. Celebridades convocam a imprensa para anunciar que vão ter um filho 15 minutos depois de ficarem grávidas; gente de prestígio não deixa os filhos serem  fotografados.
   O que é ter prestígio? Pensei, pensei e não consegui definir. É algo misterioso, mas que uma pessoa perspicaz percebe logo, sem medo de errar. Basta olhar e já se vê a diferença entre os que têm prestígio e os que são apenas famosos. Aos políticos, banqueiros, atores,  cantores, aos mais ricos, aos que têm casas pelo mundo, nunca vão se misturar os que têm prestígio e os que são celebridades. Pois há um detalhe: essas duas categorias jamais se frequentam – e dificilmente se encontram, seja em um restaurante, seja em casa de amigos. Os que têm prestígio de verdade só vão a lugares onde não haja nenhum risco de cruzar com  uma celebridade, e as celebridades, é óbvio, jamais são ou serão convidadas para nenhum lugar que seja frequentado pelos que tem prestígio. Estes, aliás, ficam a maior parte do tempo em casa para não correr o risco de ser confundidos com os famosos.
   Ter prestígio independe de poder ou de classe social. Nem adianta ter jatinho, usar as bolsas e as grifes mais caras, hospedar-se nos hotéis mais luxuosos do mundo, ter muito dinheiro.  E  só para dar um exemplo: prestígio tem Paulinho da Viola. ( REVISTA CLÁUDIA – ABRIL 2014, página 46, INSPIRAÇÃO Conversa com Danuza
DANUZA LEÃO é cronista, autora de vários livros, entre os quais  Fazendo as Malas ( Cia das Letras)  e É tudo tão Simples (Agir).

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